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Líderes fracos buscam nos EUA um difícil acordo

Para analistas, Abbas, Bush e Olmert, que se reúnem terça em Annapolis, serão incapazes de concluir tratado de paz

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Por Angela Perez
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Os EUA lançam na terça-feira em Annapolis, Maryland, mais uma tentativa de reviver o processo de paz no Oriente Médio. O Departamento de Estado convidou 49 países e instituições para a conferência. O Brasil será o único país da América Latina a participar. Washington deixou claro que pretende conseguir antes do fim do mandato de George W. Bush, em janeiro de 2009, um acordo para a criação de um Estado palestino que viva em paz ao lado de Israel. Mas analistas mostram-se pessimistas, afirmando que não há líderes capazes nem tempo hábil para isso e assinalando que a conferência não passa de uma tentativa de Bush de distrair a opinião pública dos erros no Iraque e deixar algum legado positivo. "Nenhum acordo será alcançado em um futuro próximo. Muito já foi obtido desde a Conferência de Madri (em outubro de 1991). Mas agora as questões mais complicadas deverão ser abordadas e para chegar a uma negociação final precisaríamos de um Churchill israelense e um Churchill palestino. Infelizmente, temos três líderes muito enfraquecidos, incapazes de concluir um acordo", disse ao Estado o especialista em Oriente Médio Ahron Bregman, do Departamento de Estudos da Guerra do Kings College, Londres. "Se aprendemos qualquer lição de uma década atrás, quando mesmo líderes poderosos não foram capazes de chegar a um acordo, então acho que os atuais líderes não obterão nenhum avanço", disse o professor Hillel Frisch, da universidade israelense Bar-Ilan. O presidente palestino, Mahmud Abbas, perdeu em junho o controle da Faixa de Gaza para o grupo radical Hamas em meio a violentos confrontos. "Abbas está numa posição difícil, pois o Hamas rejeita qualquer tipo de negociação ou acordo de paz com Israel. Qualquer concessão pode levar a uma guerra civil envolvendo o partido Fatah (de Abbas), a sociedade palestina e o grupo radical islâmico", disse Simon Barrett, diretor do International Media Intelligence Analysis, de Londres. Para Robert Lowe, diretor do Programa sobre Oriente Médio do instituto britânico Chatham House, é muito difícil que seja obtido um progresso substancial nas conversações sem o envolvimento do Hamas, que venceu as eleições palestinas em janeiro de 2006 e tem grande apoio entre os palestinos. O premiê israelense, Ehud Olmert, disse que a conferência de Annapolis não produzirá um acordo de paz, mas poderia dar início a negociações formais. Mas o líder israelense está profundamente debilitado, alvo de acusações de corrupção e de críticas internas sobre a condução da guerra de 2006 contra o grupo xiita libanês Hezbollah. Olmert diz que não levará adiante nenhum acordo final de paz até que os palestinos cumpram seus compromissos sob o chamado "mapa da estrada", um plano de paz de 2003 respaldado pelos EUA. No entanto, Abbas não tem condições de cumprir uma das principais exigências do mapa da estrada: o desmantelamento de grupos militantes, como o Hamas. Israel também deve, sob o mapa da estrada, congelar toda a expansão dos assentamentos israelenses. Na semana passada, Olmert disse ter proibido a construção de novas colônias na Cisjordânia. Mas não se pronunciou sobre a construção de mais casas nos assentamentos já existentes. "Olmert vê a conferência apenas como oportunidade de melhorar sua posição diante do eleitorado", disse Barrett. Olmert e Abbas reuniram-se várias vezes nos últimos meses. Os palestinos esperavam chegar a uma declaração de princípios com os israelenses em questões-chave (segurança, traçado das fronteiras, refugiados, Jerusalém Oriental e utilização dos recursos hídricos) e estabelecer um cronograma para a criação de seu Estado. Mas não tiveram sucesso. Amanhã, na véspera da conferência, Bush terá reuniões separadas com Olmert e Abbas na Casa Branca e jantará com os chefes das delegações. A Arábia Saudita e a Síria, dois países que não têm relações diplomáticas com Israel, foram convidadas. O reino saudita confirmou sua participação. Mas a A Síria não disse se vai, mesmo depois de os EUA prometerem que a questão das Colinas do Golan (capturadas por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967) estará na pauta de discussões. A participação saudita no processo de paz poderia ajudar Abbas a chegar a um compromisso. Também poderia contribuir para a tentativa de Olmert de convencer os israelenses a aceitar um acordo, insistindo na perspectiva de um pacto mais amplo com o mundo árabe. Nos 40 anos desde o fim da Guerra dos Seis Dias, foram apresentados vários planos de paz e realizadas inúmeras negociações. Algumas delas tiveram sucesso e levaram a acordos de paz - entre Egito e Israel (Camp David, 1978) e Jordânia e Israel (1994). Em setembro de 1993, o líder palestino Yasser Arafat e o premiê israelense Yitzhak Rabin assinaram os Acordos de Oslo, sobre uma limitada autonomia palestina na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, ocupadas por Israel em 1967. Mas adiaram as negociações sobre o controle de Jerusalém Oriental - que os palestinos querem como capital de um futuro Estado -, o traçado das fronteiras e o retorno dos refugiados palestinos, que fugiram do território após a criação do Estado de Israel, em 1948. Essas questões continuam sem solução e a paz ainda parece distante. "Acho que um acordo duradouro de paz não é possível por causa do atual clima político", assinalou Barret. "Levaria mais uma geração para ser alcançada uma paz total e ampla entre os israelenses e palestinos."

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