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Liga Árabe condena TPI e reafirma apoio a Bashir

Bloco, porém, não aprova proposta de cúpula no Sudão; declaração final tentará pressionar Israel a negociar

Por Jamil Chade e DOHA
Atualização:

Reunidos em Doha, os países árabes declararam ontem apoio ao presidente do Sudão, Omar al-Bashir, e a Liga Árabe deve aprovar hoje uma declaração alertando que a expedição do mandado de prisão pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) contra o líder sudanês abre "um precedente perigoso contra presidentes em exercício". Mesmo com o apoio, porém, representantes do Sudão deixaram as reuniões no Catar furiosos. Eles queriam uma cúpula em Cartum para demonstrar que Bashir não estava isolado, mas a proposta não vingou. No dia 4, o TPI emitiu um mandado internacional de prisão contra Bashir por supostos crimes de guerra em Darfur. O sudanês, assim, tornou-se o primeiros presidente em exercício a ser indiciado. A Liga Árabe adotará um comunicado pedindo que o mandado de prisão seja "anulado", permitindo que as negociações sejam mantidas. Já a declaração conjunta de países sul-americanos e árabes, por ocasião da cúpula entre regiões, pedirá uma solução diplomática para a situação em Darfur e reiterará o apoio ao processo de paz. O TPI imputou responsabilidade direta a Bashir pelos 300 mil mortos em seis anos de guerra em Darfur. O sudanês chegou ontem ao Catar, em uma viagem mantida em sigilo. O temor era de que o presidente tivesse seu avião desviado para um país que pudesse prendê-lo e extraditá-lo para Haia, na Holanda, sede do TPI. Ele desafiou a comunidade internacional ao visitar nos últimos dias a Eritreia, Egito, Etiópia e Líbia. O promotor do TPI, Luis Moreno Ocampo, acredita que as viagens de Bashir são " sinal de desespero". "Mais cedo ou mais tarde ele será preso", disse. O Brasil e os países sul-americanos não insistirão pela extradição do sudanês. Brasília não se pronunciou sobre o indiciamento e se limitará a pedir uma solução pacífica para a questão. O Sudão insistiu pela inclusão de uma linguagem mais forte por parte dos sul-americanos. Mas, nas entrelinhas, a declaração é um apoio velado a uma saída fora do TPI. Ativistas pedem que a cúpula solicite oficialmente a volta de ONGs ao Sudão. Após a ordem do TPI, 13 organizações foram expulsas do país, sob o argumento de que elas passavam informações às potências ocidentais. "A Liga Árabe poderia ajudar milhares de vidas se pressionar Cartum para rever a expulsão", afirmou Richard Dicker, diretor do departamento de Justiça Internacional da Human Rights Watch. Mesmo assim, a declaração "pede a todos os países árabes que não cooperem com o TPI". Os países árabes, porém, não chegaram a um acordo sobre o pedido de Cartum para realizar uma cúpula no Sudão em apoio ao presidente indiciado. ALERTA A ISRAEL No documento publicado hoje, a Liga Árabe também deve alertar que a proposta de paz feita pela Arábia Saudita a Israel "não ficará sobre a mesa por muito tempo". Riad havia sugerido a normalização das relações, em troca da retirada israelense das áreas ocupadas em 1967 e a criação de um Estado palestino. No entanto, o indicado ao cargo de primeiro-ministro em Israel, Binyamin "Bibi" Netanyahu, recusa a solução de dois Estados. Mas, mesmo na questão palestina, a divisão entre os árabes é profunda. Cairo e Riad, aliados de Washington, apoiam o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas. O Catar reconhece o poder do Hamas e a Síria dá apoio financeiro e logístico à facção extremista.

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