Liga Árabe dá aval a envio de armas para rebeldes em luta contra Assad

Carta branca. Reunido em Doha, bloco árabe decide que seus integrantes podem fornecer armamento a insurgentes que há 2 anos tentam derrubar o regime de Damasco; Iraque e Líbano, vizinhos da Síria, protestam e alertam para risco de instabilidade regional

PUBLICIDADE

Por CAIRO
Atualização:

A Liga Árabe decidiu ontem liberar seus Estados-membros para armar os rebeldes sírios, em mais um revés para a ditadura de Bashar Assad. A resolução, que foi criticada por Iraque, Argélia e Líbano, estabelece que todos os meios, entre eles militares, para proteger os civis sírios podem ser providos aos rebeldes. Na reunião, a Síria foi representada pelo líder dissidente Moaz al-Khatib, ex-chefe da Coalizão Nacional Síria, e pelo premiê rebelde Ghasan Hito. "Cada Estado-membro tem o direito de fornecer, de acordo com sua vontade, todos os meios de autodefesa, entre eles os militares, para sustentar a resistência do povo sírio e do Exército Sírio Livre (ESL), diz a resolução. Mas a Liga Árabe ressaltou no texto que os esforços para uma solução política da crise síria são prioritários.Durante a reunião, os líderes rebeldes disseram ter pedido ao secretário de Estado americano, John Kerry, mísseis Patriot terra-ar para defender o território conquistado pelos dissidentes no norte da Síria. Os insurgentes têm poucas armas para evitar os ataques dos helicópteros e caças de Assad. Os mísseis foram enviados à Turquia no ano passado para proteger o espaço aéreo turco de disparos vindos da Síria. Mas a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) descartou essa possibilidade."Pedi ao senhor Kerry que estenda a cobertura dos mísseis Patriot ao norte do território sírio e ele ficou de estudar o assunto", disse Al-Khatib, que compareceu à reunião dois dias depois de ter renunciado ao cargo. "Ainda estamos esperando a decisão da Otan de proteger a vida das pessoas. Não de lutar, mas de proteger vidas." Para Al-Khatib, os Estados Unidos precisam desempenhar um papel mais ativo para pôr fim ao conflito na Síria.Uma fonte da aliança atlântica, que pediu anonimato, descartou a possibilidade de ajudar os rebeldes. "A Otan não tem a intenção de intervir militarmente na Síria", disse. "A Otan quer o fim da violência na Síria, que representa uma séria ameaça para a estabilidade e segurança na região. Nós respaldamos plenamente os esforços da comunidade internacional por uma solução pacífica.""Foi uma reunião histórica. Era possível sentir a grandiosidade dela", elogiou o porta-voz da oposição síria, Yasser Tabbara. "Foi um primeiro passo para obtermos a legitimidade legal plena." O emir do Catar, Hamad bin Khalifa al-Thani, um dos principais partidários dos rebeldes no mundo árabe, pediu que a delegação que representou os sírios na cúpula seja formalmente reconhecida, apesar das divisões internas entre os dissidentes. O país foi suspenso da Liga Árabe em 2011. Armas químicas. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, designou ontem o professor sueco Ake Sellström para liderar uma missão técnica que investigará um possível ataque com armas químicas na Síria, que teria ocorrido na semana passada. O analista é especializado em incidentes com substâncias químicas, biológicas, radioativas, nucleares e explosivas. "É um cientista experiente com uma formação sólida", destacou o porta voz da ONU, Martin Nesirky, sobre Sellström, que já trabalhou como assessor da Comissão Especial para o Desarmamento do Iraque. "Trata-se de uma missão técnica para descobrir se foram usadas armas químicas, não para saber quem as usou", acrescentou Nesirky. O porta-voz afirmou ainda que a missão não terá o poder de iniciar uma investigação criminal e ainda não há um prazo para ela começar. Os membros ainda estão sendo escolhidos. O governo Assad pediu à ONU que investigasse o incidente que deixou 26 mortos em Alepo, pelo qual responsabilizou os rebeldes. Estes, por sua vez, dizem que o governo usou o arsenal contra a própria população. O serviço de inteligência de Israel teme que os rebeldes possam ter adaptado uma carga de cloro num míssil rústico e disparado contra o quartel militar de forças leais a Assad atingido no ataque da semana passada. / AFP, AP e REUTERS

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.