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Livre mercado ameaça estaleiro de Gdansk

Por Kim Murphy , Los Angeles Times , Gdansk e Polônia
Atualização:

Esta cidade à margem do gelado Mar Báltico orgulha-se de ser o berço do sindicato Solidariedade, que ajudou a desencadear o colapso do comunismo na Europa Oriental. Mas, em grande parte dos últimos 500 anos, enquanto reis, comunistas e defensores do livre mercado iam e vinham, Gdansk simplesmente construiu navios. Desde 1949, mais de mil navios já deslizaram da cidade para o mar. Agora, os mecanismos de livre mercado que milhares de grevistas do Solidariedade ajudaram a introduzir na Polônia ameaçam o envelhecido estaleiro estatal, cuja lentidão para abandonar os subsídios e as garantias de emprego vai na contramão da União Européia. Com a entrada da Polônia na UE, em 2004, o estaleiro precisaria seguir as regras européias de concorrência. A comissão de concorrência da UE aconselhou Gdansk a fechar duas de suas três carreiras (rampas onde se montam navios) remanescentes ou devolver milhões de dólares de subsídios estatais. Funcionários do estaleiro afirmam que qualquer uma dessas opções significaria a falência e pedem mais tempo para um processo de modernização e privatização. Eles têm o apoio do ex-presidente polonês Lech Walesa, co-fundador do Solidariedade. Gdansk chegou a empregar mais de 17 mil pessoas em oito carreiras. Hoje, restam 3 mil funcionários. O enorme galpão de produção do estaleiro, que abriga guindastes e estações de soldagem numa área de 70.000 m2, opera ininterruptamente seis dias por semana. Oito embarcações estão em produção no galpão e nas três carreiras. As carreiras são arrendadas para a administração de Gdansk por investidores holandeses, donos de parte do complexo. Mas grande parte do estaleiro está abandonada. Ironicamente, segundo analistas da indústria naval, é a força do Solidariedade que dificulta a transformação do estaleiro num empreendimento moderno, eficiente e lucrativo - e menos dependente da mão-de-obra. ''''O Solidariedade provavelmente está resistindo a fim de preservar o estaleiro'''', disse George Bruce, professor da escola de ciências marítimas da Universidade de Newcastle, Grã-Bretanha. O Solidariedade insiste em manter pelo menos duas carreiras em funcionamento, permitindo que as operações de construção e montagem aconteçam simultaneamente e evitando a necessidade de dispensar metade da força de trabalho durante parte do ano. Gdansk e os outros dois grandes estaleiros da Polônia foram privatizados no início da era pós-comunista, mas voltaram para as mãos do Estado depois de sofrer prejuízos. A nova administração, nomeada há um ano, conseguiu uma certa recuperação. Depois de entregar nove embarcações em 2006 com um prejuízo de US$ 26,6 milhões, o estaleiro registrou um lucro líquido de US$ 4,1 milhões no primeiro semestre deste ano.

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