Livro de repórter da BBC retrata 'agonia' no Oriente Médio

Guila Flint, baseada em Tel Aviv, lança coletânia de textos escritos entre 1995 e 2009.

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Por Rodrigo Durão Coelho
Atualização:

A repórter da BBC Brasil em Tel Aviv, Guila Flint, lança nesta quinta-feira em São Paulo o livro Miragem De Paz - Israel e Palestina, Processos E Retrocessos A obra reúne textos da jornalista escritos entre 1995 e 2009 para a BBC Brasil e outros veículos da imprensa brasileira, como O Estado de S. Paulo, Carta Capital e Globonews. "Escolhi 315 textos de cerca de 5 mil. São entrevistas, análises, reportagens e boletins, uma variedade que cria dinamismo. Muitos capturam o calor do momento, trazendo personagens israelenses, palestinos e brasileiros", diz a repórter. Capítulos A capa da obra, a foto de uma pintura paradisíaca do artista britânico Banksy na barreira israelense da Cisjordânia, ilustra o que a autora chama no título de "miragem", para definir as negociações entre os dois lados. Dividido em quatro capítulos, o livro de Flint narra de forma cronológica o que ela chama de "agonia do processo de paz" entre israelenses e palestinos. O primeiro, entitulado O Grande Golpe, refere-se ao período entre 1995 e 1999, após o assassinato do então premiê israelense Itzhak Rabin por um extremista judeu e o primeiro governo de Binyamin Netanyahu. Para Flint, a morte de Rabin foi um dos mais duros golpes ao processo de paz, responsável pelo aumento do extremismo nos dois lados. O segundo capítulo, Nova Esperança, Decepção e Explosão, engloba textos produzidos entre 1999 e 2006, época dos governos de Ehud Barak e Ariel Sharon; o ínicio da segunda Intifada (levante) palestina; o aumento do número de atentados suicidas palestinos; o início da construção da barreira israelense na Cisjordânia; a morte de Yasser Arafat e a reocupação de cidades palestinas. A terceira parte, Miragem de Processo e Duas Guerras, referente aos anos de 2006 a 2009, fala da vitória do Hamas nas eleições palestinas, as pouco frutíferas negociações entre Ehud Olmert e o líder palestino Mahmoud Abbas, a guerra no Líbano, a ofensiva de Israel contra Gaza e a expulsão do grupo Fatah do território. O capítulo final, De Volta à Estaca Zero e Impasse, fala sobre o novo governo de Netanyahu, que assumiu novamente neste ano o cargo de premiê israelense. Humor Jornalista desde 1992, quando começou a escrever sobre o Brasil para a mídia israelense (em 95 inverteu os papéis, escrevendo sobre o Oriente Médio para o Brasil) , Guila Flint se diz hoje muito mais pessimista em relação ao processo de paz do que era na década passada. "Eu imaginava que o assassinato de Rabin fosse apressar a paz, que a sociedade se organizaria contra as forças fundamentalistas, contra a extrema direita", diz ela. "Mas a ampliação dos assentamentos judaicos foi o principal fator que fez os palestinos perderem fé no processo. Por outro lado, o aumento dos atentados suicidas, entre 95 e 2003, tornou muito difícil para os pacifistas de israel convencer a sociedade de que a paz é possível." "Um acordo de paz hoje é mais urgente que nunca, porém mais improvável", completa. A autora diz que, entre os textos escolhidos para seu livro, existem pitadas de humor. Ela cita a história de um assaltante israelense que roubou uma bolsa na praia de Tel Aviv e depois percebeu que, dentro do objeto furtado, carregava uma bomba. "Ele entrou em pânico e chamou a polícia. Não só foi isento de responder pelo furto, mas foi considerado um herói, por ter salvo muitas vidas", conta Flint. Além dos textos, o livro de 518 páginas da editora Civilização Brasileira traz ainda versões atualizadas de mapas dos assentamentos judaicos e da barreira israelense construída na Cisjordânia. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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