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Livro e documentário mostram bastidores da campanha de Bush

Por Agencia Estado
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George W. Bush faz caretas para a câmera. Dá um tapinha na careca do repórter e, imitando um pregador, entoa: "Cure." Enfia os dedos nas orelhas de um outro. "O mais legal de tudo era acender uma bituca", confidencia ele, lembrando-se com saudade dos seus tempos de fumante. Dificilmente o tipo de imagens que a Casa Branca consideraria presidenciáveis. Os assessores de Bush estão preparando seu espírito para o lançamento de dois registros dos bastidores da campanha de Bush à presidência, em 2000 - um livro e um documentário - que revelam um lado gozador e piadista raramente visto em público. O livro é Ambling Into History: The Unlikely Odyssey of George W. Bush, de autoria do jornalista do New York Times Frank Bruni. O filme é Journeys with George, da ex-produtora do noticiário da NBC Alexandra Pelosi. Ambos devem ser lançados em março. Tanto Bruni quanto Pelosi cobriram a campanha presidencial de Bush e ambos retratam o candidato como um palhaço descontraído, mas culturalmente fraco. Alguns assessores do governo estão apreensivos, temendo que o livro de Fran Bruni e o filme de Alexandra Pelosi possam fornecer material novo para os comediantes dos programas de fim de noite e ressuscitar velhas dúvidas sobre o intelecto, a sintaxe e competência de Bush - críticas que diminuíram à medida que os índices de aprovação do presidente, graças à guerra, foram às alturas. O diretor de Comunicação da Casa Branca, Dan Bartlett, diz que há "mais curiosidade do que qualquer outra coisa". Observou que ambos os registros podem ajudar a dar à população uma compreensão mais plena da personalidade de Bush. O livro de Bruni, que começa a ser vendido nos EUA em 5 de março, informa que Bush considerava Chuck Norris seu ator favorito, nunca tinha ouvido falar do astro de Titanic, Leonardo Di Caprio, não sabia que Friends era uma série da TV e sua dieta favorita nas viagens da campanha era composta de sanduíches de pasta de amendoim com geléia e salgadinhos de pacote tipo fritos e Cheese Doodles. O Bush pré-presidencial era "em parte um malandro, em parte atrapalhado, um eterno rapaz do grêmio estudantil e um brincalhão incauto, um homem dedicado à prática de exercícios físicos nos dias de semana e um dorminhoco nos fins de semana", escreve Bruni. Em tom de brincadeira, Bush costumava beliscar, cutucar e dar uma "gravata" nos repórteres do sexo masculino, dar palmadinhas na cabeça dos carecas e uma vez enfiou os dedos indicadores nos ouvidos de Bruni "para demonstrar que um comentário que ele ia fazer seria em off ", escreve o autor. Mas Bruni também sugere que Bush amadureceu ao longo do caminho e passou a projetar clareza de propósito e poder presidencial na liderança da nação após os atentados terroristas de 11 de setembro. Pelosi, que é filha da líder da bancada democrata na Câmara, a deputada Nancy Pelosi, carregava sua própria câmera de vídeo, e a usou para captar as macaquices e o gracejos rudes de Bush nos quase dois anos de duração da campanha eleitoral. Freqüentemente Bush rondava a seção de imprensa na parte traseira de seu avião de campanha para fazer brincadeiras com os jornalistas, fotógrafos e membros da equipe da NBC. Costumava fazer caretas para a câmera de vídeo de mão de Pelosi, brincar e oferecer supostos conselhos sentimentais. No filme, a uma determinada altura, Bush vira uma garrafa de cerveja não-alcoólica com gosto. "É preciso um animal para reconhecer outro animal", diz ele aos outros brincalhões de seu avião. Pelosi, que agora tem sua própria produtora de filmes, editou centenas de horas de vídeo em um documentário de 85 minutos, que será apresentado em 8 de março em um festival de cinema em Austin, Texas. Alguns altos funcionários da Casa Branca disseram que a apresentação pública do filme transgride normas básicas de que comentários e brincadeiras ocorridos na parte de trás do avião de Bush eram em off. Mas Pelosi filmou abertamente o então governador do Texas e ele mesmo sugeriu - na câmera - um título para o documentário. "Houve uma questão sobre como era o acordo original. Mas, no fim das contas, é simplesmente uma reflexão do que aconteceu na campanha eleitoral - os longos dias e as longas semanas", disse o porta-voz da Casa Branca, Bartlett, acrescentando que o consultor de mídia de Bush, Mark McKinnon, viu uma cópia prévia do filme e o considerou "muito engraçado, muito inofensivo". Neste ínterim, notícias sobre o livro de Bruni publicadas na imprensa têm gerado críticas mordazes por parte de comentaristas conservadores. "Então Bush está tão por fora, não conhece nenhum dos mais recentes ícones populares", provocou o comentarista de rádio e TV Rush Limbaugh. "O importante é que George W. Bush sabe quem ele é. George W. Bush conhece este país sabe quem vocês são e sabe o que é melhor." Frank Bruni disse estar surpreso de que o livro tenha despertado tanta controvérsia antes de sua publicação. "Há a pressuposição errônea de que este livro inteiro é sobre as lacunas no conhecimento de Bush ou uma tentativa de ridicularizá-lo. É um livro muito mais abrangente e equilibrado do que isso, acredito eu", afirmou.

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