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Londres pagará para países latinos e asiáticos receberem refugiados

O objetivo de primeira-ministra é financiar a infraestrutura para reassentar os milhares de migrantes que estão na Europa

Por Jamil Chade , Correspondente e Genebra
Atualização:

O Reino Unido anunciou nesta sexta-feira que vai pagar para que refugiados deixem a Europa e se instalem na América Latina e na Ásia. A proposta foi apresentada pela primeira-ministra britânica, Theresa May, durante a cúpula da Europa em Malta. O Estado apurou com fontes dos serviços de refugiados da ONU que o Brasil seria um dos países escolhidos para reassentar parte desses refugiados.

Os britânicos estariam dispostos a colocar 30 milhões de libras esterlinas num fundo para promover a mudança desses refugiados a outras regiões, além de socorrer os que estão em acampamentos improvisados nas portas do bloco, sem poder entrar. Parte do dinheiro ainda será usado para melhorar os campos de refugiados no sul da Europa. Em locais como Sérvia, Grécia e Hungria, milhares de pessoas vivem em condições precárias em pleno inverno europeu. 

Premiê britânica tenta dissipar temores sobre o Brexit Foto: AFP PHOTO / POOL / Kirsty Wigglesworth

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A meta do programa é de colocar dinheiro à disposição da ONU para ajudar países fora da Europa que estejam interessados em receber esses refugiados. O programa já existe. Mas a iniciativa de May foi vista como um sinal de que Londres poderia privilegiar esse caminho como forma de ajudar a “resolver” a crise de refugiados no continente. 

O serviço de comunicação do Alto-Comissariado da ONU para Refugiados confirmou ao Estado que o pacote anunciado por May iria para um fundo que tem sido gerenciado pela entidade em Genebra. A ONU está conversando com cerca de 30 países para que aceitem famílias de refugiados. Na América Latina, quatro países fazem parte do projeto: Brasil, Argentina, Uruguai e Chile.

Segundo a ONU, o Brasil não recebeu nenhum refugiado em programas de reassentamento desde 2015, sob a justificativa que estava revendo sua capacidade. Nesse período, o governo concedeu vistos para sírios. 

O Estado revelou com exclusividade que o Brasil, durante o governo de Dilma Rousseff, chegou a oferecer um pacto à Alemanha, segundo o qual Brasília estaria disposta a receber um número maior de refugiados, com a condição de que seus programas de reassentamento fossem sustentados financeiramente pelos europeus. Reuniões chegaram a ocorrer de forma preliminar entre os dois governos. Mas o projeto parou depois de Michel Temer assumir o governo. 

Segundo o governo May, cerca de 2,5 milhões de libras esterlinas poderiam entrar em um programa centralizado pela ONU no qual a Europa ajudaria países da América Latina ou da Ásia “a ter condições de infraestrutura para reassentar refugiados”. Parte do dinheiro também seria usado para ajudar imigrantes a retornar para casa. Sudão, Argélia, Marrocos, Tunísia e Egito seriam alguns dos beneficiados.

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Com isso, a Europa reduziria sua longa lista de pessoas que pedem refúgio. Mas a proposta de May, já criticada por sua aliança com Donald Trump, promete criar polêmica entre entidades de direitos humanos na Europa, em razão do baixo número de refugiados que grandes países como o Reino Unido ou França aceitaram receber da Turquia e da Grécia.