O governo da Grã-Bretanha publicou hoje um dossiê oficial sobre os "abusos contra os direitos humanos" cometidos pelo governo iraquiano e seu presidente, Saddam Hussein, que incluem casos de tortura, violação e desaparecimento de pessoas naquele país. A Anistia Internacional, por sua vez, criticou em Londres a publicação do dossiê britânico, alegando que o momento em que o documento é divulgado "explora e justifica seu próprios objetivos de guerra". Também o correspondente político da BBC e apresentador de televisão, James Robbins, indicou hoje que a publicação do dossiê é uma tática do governo trabalhista para conseguir mais adeptos britânicos no caso de se lançar uma guerra contra o Iraque. "Este é um documento político, com fins políticos e estratégicos claros, que busca um objetivo muito concreto: convencer o público britânico de que uma guerra contra Saddam será o mais justo e necessário", disse Robbins. O chanceler britânico, Jack Straw, declarou que o informe oficial é o mais detalhado "jamais publicado" sobre os abusos e casos de violação dos direitos humanos perpetrados pelos funcionários iraquianos. "O Iraque é um lugar aterrorizante para viver devido ao medo imposto por Saddam por meio de suas políticas de poder. A tortura é um método sistemático neste país e os mais importantes funcionários do governo iraquiano estão pessoalmente envolvidos nestes métodos de violência", declarou Straw. "Os abusos contra os direitos humanos no Iraque já ocorriam no passado e prosseguem hoje em dia. Por essa razão, o governo da Grã-Bretanha decidiu publicar esta evidência porque as pessoas devem entender o horror em que se vive sob o regime de Saddam Hussein", disse o chanceler inglês em declarações à BBC. "Saddam adquiriu armas nucleares e biológicas de destruição em massa, as quais utilizou contra seu próprio povo, mas também contra seus vizinhos, e estou certo de que as utilizará num futuro próximo. Mas o mais terrível de tudo é que o regime iraquiano utiliza sistematicamente métodos de tortura diariamente e o único responsável direto (por isso) é Saddam", acrescentou. O dossiê, publicado a apenas seis dias da data limite imposta a Bagdá para entregar seus arsenais nucleares e biológicos a inspetores da ONU, também contém depoimentos e desenhos feitos por vítimas das torturas e ataques, incluindo "material encontrado pelos serviços de inteligência britânicos" e evidências sobre casos de tortura e violação recolhidos por organizações humanitárias no Iraque. A Anistia Internacional, que criticou a oportunidade da publicação do informe, advertiu que "esta atenção posta agora sobre os direitos humanos dos iraquianos não é nada mais do que uma manipulação do governo britânico para obtenção de seus próprios fins bélicos". A porta-voz da organização, Irene Khan, disse que não se deve esquecer de que "as autoridades britânicas se negaram no passado a analisar documentos apresentados pela Anistia sobre violoações aos direitos humanos cometidas não apenas no Iraque, mas também em dezenas de outros países".