López Obrador se autoproclama presidente do México

Apesar da derrota nas eleições de julho, quando Felipe Calderón venceu por uma diferença de 0,56 pp, candidato da esquerda vai montar governo paralelo

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Por Agencia Estado
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O esquerdista Andrés Manuel López Obrador, do Partido da Revolução Democrática (PRD), vai se autoproclamar "presidente legítimo" do México nesta segunda-feira, Dia da Revolução Mexicana. O fato é um desafio a Felipe Calderón, candidato eleito à presidência do país pelo Partido de Ação Nacional (PAN). Calderón vai tomar posse no dia 01 de dezembro enquanto López Obrador, que considera uma fraude o resultado das eleições do dia 02 de julho, quando Calderón foi considerado eleito com uma diferença de apenas 0,56 pontos percentuais, convocou mais de um milhão de seguidores à praça de Zócalo, na capital do país, onde ele vai fazer um "juramento solene". Dirigentes do PRD comunicaram a intenção de colocar em López Obrador a faixa presidencial nesta segunda-feira. Além do ato marcado para a data, o líder de esquerda deve promover uma Convenção Nacional Democrática para delinear as bases de uma "nova República" e as futuras ações de "resistência civil pacífica" e de oposição a Calderón, cujo triunfo eleitoral não é reconhecido por Obrador e a quem considera um "presidente falso". López Obrador provavelmente vai renovar suas críticas contra o atual presidente, Vicente Fox, correligionário de Calderón, a quem acusa de estar à frente da fraude eleitoral. O candidato do PRD foi proclamado presidente por milhares de partidários que o consideraram presidente legítimo em setembro, quando presenciaram uma Convenção Nacional, no Zócalo, e negaram "a imposição de Calderón". O líder de esquerda já nomeou o "gabinete" de seu "governo alternativo", que terá sede na Cidade do México, mas também irá a outras regiões, e será financiado com doações dos militantes de esquerda, segundo anunciou. "Caráter simbólico" Alguns especialistas assinalaram que a "posse" do ex-candidato de esquerda vai ter caráter "meramente simbólico, sem força legal", mesmo que outros opinem que a atitude representa um "aberto" desafio a Calderón, a Fox, e à ordem institucional. "López Obrador corre o risco de ser acusado por usurpação de funções, não tanto por ´assumir´ como presidente, mas sim por eventualmente ´exercer´ tarefas que a lei reserva ao chefe de Estado", segundo apontou Jorge Guevara, analista e professor universitário de Direito e Ciências Políticas no México. O analista Carlos Gutiérrez, catedrático de diversas universidades mexicanas, assinalou nesta segunda-feira que o ato vai "enviar a mensagem de que López Obrador definitivamente não reconhece Calderón como presidente legítimo e que está disposto a fazer sua vida ´impossível´ durante o mandato", entre 2006 e 2012. "A crise política no México causou uma situação inédita de termos um ´presidente legítimo´ e um ´presidente legal´, e todos afrontam o desafio de fazer algo para que a situação não passe dos limites", afirmou Gutiérrez. O líder de esquerda e seus seguidores juraram impedir a posse de Calderón na cerimônia do dia 01 de dezembro, que deve acontecer no Congresso mexicano, perante vários mandatários e outras personalidades estrangeiras. Calderón, que fez chamamentos à união nacional e ao diálogo com as forças políticas, incluindo a esquerda, também pode divulgar na manhã desta segunda-feira os nomes de "alguns membros" de seu gabinete, segundo fontes de seu partido. Foz, por outro lado, vai encabeçar nesta segunda-feira, diversos atos pelo Dia da Revolução Mexicana (1910-1917) e, segundo seu gabinete, vai exaltar à memória de várias pessoas que lutaram a favor da democracia, da liberdade, da justiça e pelo respeito às instituições. A prefeitura da capital, nas mãos do PRD, anunciou que mais de dois mil policiais vão vigiar, nesta segunda-feira, a "tomada de posse", a Convenção Nacional e os atos pelo aniversário de 96 anos de início da Revolução Mexicana.

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