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Lua-de-mel de novo governo não deve durar muito

Análise

Por Adam Nagourney
Atualização:

Considerando a excitação vivida na capital dos EUA esta semana, poderíamos pensar que, com a posse de Barack Obama (e a saída de George W. Bush), a economia está prestes a voltar à vida, as tropas no Iraque estão a caminho de casa e haverá assistência médica para todos. Para citar uma certa "inimiga" de Obama - que acabou se tornando sua própria secretária de Estado -, "os coros celestiais cantarão e todos saberão que fizemos o que é certo. O mundo será perfeito". Mas, enquanto Obama prestava seu juramento, havia evidências de que, por mais entusiasmado que o público se mostre com a mudança no poder, não existem remédios rápidos. A enxurrada de notícias sombrias no campo econômico, somadas ao tom calculadamente sóbrio que Obama adotou em seu discurso de domingo no National Mall, entretanto, vêm constituindo uma espécie de proteção para o presidente. "As pessoas darão a Obama mais tempo do que dariam a outro novo presidente, porque sabem que ele está diante de desafios sem precedentes", disse Mark McKinnon, consultor que trabalhou para o senador John McCain, adversário republicano de Obama nas eleições. No entanto, se agora está claro que Obama dispõe de algum tempo, a pergunta seguinte é: "Quanto tempo? Os assessores de Obama, que tomaram o cuidado de enfatizar que nada disso acontecerá da noite para o dia, evitam dar um prazo específico para as soluções - o que não surpreende. "Não sei", declarou David Axelrod, membro da equipe de Obama, em uma entrevista. "Neste momento, as pessoas tendem a nos dar algum tempo. E por tempo, quero dizer alguns meses." Rahm Emanuel, chefe de gabinete de Obama, respondeu com uma concisa mensagem de e-mail quando lhe perguntaram quanto tempo achava que Obama teria. "Impossível estabelecer um prazo", escreveu. CRISE LONGA Uma pesquisa realizada pela Times e pela CBS News na semana passada, forneceu pelo menos alguma medida desse "tempo necessário". A maioria respondeu que levaria cerca de dois anos para Obama cumprir a promessa de campanha de melhorar a economia, ampliar a assistência médica e acabar com a guerra no Iraque. A maior parte respondeu que achava que a recessão durará dois anos ou mesmo mais. Mas, considerando a clareza e a certeza da promessa de campanha de trazer de volta do Iraque todos os soldados dentro de 16 meses, parece correto afirmar que o público em geral - e sua base democrata em particular - não tolerará grandes adiamentos nesta frente. Talvez Obama também ache difícil adiar por muito tempo o fechamento da prisão de Guantánamo. Ele tem se mostrado muito cuidadoso em relação ao tema desde a eleição, enfatizando dificuldades, embora, ao mesmo tempo, deixe claro que o centro de detenção será fechado. A possibilidade de Obama ir devagar em algumas promessas de campanha também dependerá da posição diante do público americano - da continuidade de seu ar de comando e competência. Em razão de uma série de passos em falso ao assumir a presidência em 1993, Bill Clinton dilapidou rapidamente o capital político de que dispunha, como ficou patente com o desastroso resultado do seu partido nas eleições legislativas de 1994. Até agora, momento, Obama conseguiu permanecer intocado, mas sua capacidade de pedir paciência aos americanos dependerá em grande parte da confiança do público em sua competência e seus motivos. Axelrod disse que Obama e o país estão sintonizados a respeito dos problemas que ele enfrenta e do que será necessário para a recuperação. "É notável nas pesquisas que as pessoas são ao mesmo tempo otimistas e realistas", declarou. No entanto, se os últimos anos nos provaram algo, é que as coisas agora mudam muito mais rapidamente na política do que antes; a opinião pública muda, os acontecimentos mudam, as percepções mudam. Para McKinnon, "Obama terá cerca de meio ano, o que corresponde a cinco meses e meio a mais do que de costume". *Adam Nagourney é comentarista político

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