Lugo deixa de ser bispo oficialmente

Papa retira ?estado clerical? de novo presidente paraguaio a seu pedido

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Por Reuters e Associated Press
Atualização:

Em uma decisão histórica, o papa Bento XVI concedeu ontem uma dispensa especial ao bispo e presidente eleito paraguaio, Fernando Lugo, devolvendo-lhe a um estado laico. Por mais de dez anos Lugo foi bispo da diocese de San Pedro, uma das regiões mais pobres do Paraguai. Ele pediu dispensa do ministério sacerdotal em 2006, para disputar a eleição presidencial de 2008 como candidato da oposição. O pedido inicialmente havia sido rejeitado pelo Vaticano, que apenas o suspendeu de suas funções, polarizando dentro da Igreja Católica as opiniões a respeito da candidatura de Lugo. "É a primeira vez que se outorga isso (a dispensa para um bispo)", afirmou o núncio apostólico do Vaticano em Assunção, Orlando Antonini. "(O pedido) foi aceito porque o povo o elegeu e porque seu estado clerical não é compatível com o cargo de presidente da república." Antonini explicou que, ao tornar Lugo novamente laico, o papa o retirou da situação de sanção por rebeldia em que se encontrava e o liberou de todas as obrigações do estado clerical, como o celibato. "É uma grande dor para a Igreja perder um bispo, um sacerdote que nós tentamos dissuadir de seguir o caminho político até o último dia de sua campanha eleitoral", disse Antonini. Segundo ele, a medida adotada é perpétua e Lugo só poderá voltar a ser sacerdote - depois do fim de seu mandato - se obtiver autorização especial do papa. O presidente eleito agradeceu pela decisão. "É uma notícia esperada por muito tempo", afirmou. "Quero agradecer a Sua Santidade Bento XVI por uma decisão que não foi fácil para o Vaticano. É como dizem - quando Roma fala, acaba-se toda a discussão." POLÊMICA Em 2006, o presidente da Conferência dos Bispos Paraguaios, Ignacio Gogorza, chegou a dizer ao jornal local Última Hora que Lugo poderia até ser excomungado por sua escolha pela política. De acordo com Antonini, ele não será expulso da Igreja. Durante a campanha eleitoral, Lugo também se arriscou a ter sua candidatura impugnada, já que a Constituição paraguaia proíbe a postulação de sacerdotes de qualquer culto ou religião. Lugo foi eleito em abril com 41% dos votos e deve assumir o cargo no dia 15. Para os analistas, embora ele tenha uma base política formada por movimentos sem-terra e grupos socialistas, seu governo também deve ser influenciado pelas políticas centristas do partido de seu vice-presidente, Francisco Franco, o conservador Partido Liberal Radical Autêntico.

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