Lugo nega xenofobia contra brasiguaios

Depois de semana tensa, ambos os governos amenizam discurso

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Por Assunção
Atualização:

O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, disse ontem que as manifestações de sem-terra contra os agricultores brasileiros que vivem em seu país não devem ser encaradas como um rechaço aos brasileiros. Lugo explicou que as atitudes dos sem-terra "são movidas por necessidade e não queria que se interpretasse como uma atitude xenófoba, de perseguição a estrangeiros". As declarações de Lugo foram feitas após e uma semana tensa - marcada por exercícios militares que mobilizaram 11 mil soldados brasileiros na zona de fronteira e por ameaças de invasões de fazendas de agricultores brasiguaios para fins de reforma agrária. Além do presidente paraguaio, o governo brasileiro também se esforçou em reduzir a tensão. Ontem, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, lembrou que o Paraguai é um "país amigo e soberano". Esta semana, os diversos movimentos agrários paraguaios romperam uma trégua que vinha sendo mantida há 15 dias com o governo e prometeram retomar as manifestações e invasões de terras. Na quarta-feira, o presidente paraguaio acrescentou ainda mais tensão nas relações ao dizer que os exercícios militares realizados regularmente pelas Forças Armadas brasileiras na zona de fronteira entre os dois países "despertaram a sensibilidade paraguaia". Lugo afirmou na ocasião que "a soberania nacional não foi violada", mas alertou que "se isto vier a ocorrer, a reação paraguaia não tardará". No mesmo dia, o Itamaraty emitiu nota sugerindo preocupação com a segurança dos milhares de brasiguaios - agricultores brasileiros que há mais de 40 anos compraram terras no Paraguai - frente às ameaças dos sem-terra. O Itamaraty indicou, entretanto, que uma eventual onda de violência contra brasileiros radicados no Paraguai porá fim nas negociações bilaterais sobre um tema especialmente caro ao país vizinho - o preço da energia gerada pela hidrelétrica binacional de Itaipu exportada ao Brasil. "As expressões que ouvimos das autoridades paraguaias são sempre tranqüilizantes. Nossa expectativa é que tenham capacidade de controlar excessos. É preciso que tudo seja feito com moderação e com respeito aos direitos humanos", disse Amorim, em referência ao controle de Lugo sobre os conflitos agrários. ENERGIA A abertura de negociações sobre a energia de Itaipu foi o resultado das pressões diretas de Lugo sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante sua visita a Brasília em setembro passado. A próxima rodada se dará no dia 27. Como utiliza apenas 5% da sua quota de energia de Itaipu, o Paraguai exporta o restante para o Brasil. Mas reclama que, do preço de US$ 45 por megawatt/hora, recebe apenas US$ 2,81 por megawatt. Ou seja, em vez de US$ 1,5 bilhão ao ano, o Brasil paga US$ 275 milhões. A redução no valor, entretanto, deve-se aos descontos da dívida do Paraguai com o Tesouro Nacional e a Eletrobrás, que adiantaram a parcela paraguaia na construção da usina. Outro ponto relevante dessas negociações diz respeito à oferta brasileira de cooperar e financiar a construção de uma linha de transmissão de energia entre a Hidrelétrica de Itaipu e Assunção, ao custo de US$ 350 milhões, que tenderá a acabar com os atuais apagões na capital paraguaia. Em Brasília, um diplomata brasileiro negou na quinta-feira que as operações militares na região do Alto Paraná tenham relação com as disputas de terra. Disse que exercícios são realizados periodicamente nessa área de fronteira, conhecida pelo comércio ilegal. "A última coisa que o governo brasileiro pretende fazer é usar suas tropas para interferir num problema interno do Paraguai", disse ele. EFE E NYT. COLABOROU DENISE CHRISPIM MARIN

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