Lukashenko toma posse em cerimônia secreta e polícia reprime manifestantes com canhões d'água

Países europeus contestam a posse de Lukashenko, apelidado de 'último ditador da Europa'; a Alemanha declarou não reconhecê-lo devido à falta de legitimidade democrática

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Por Redação
Atualização:

MINSK - O presidente da Bielo-Rússia, Alexander Lukashenko, que enfrenta um grande movimento de protesto nas ruas desde sua reeleição em agosto, prestou juramento nesta quarta-feira, 23, para o sexto mandato em uma cerimônia mantida em sigilo. 

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No início da noite, a polícia antidistúrbios usou canhões de água contra milhares de manifestantes que se reuniram no centro de Minsk. Houve protestos também em outras cidades. Os policiais detiveram dezenas de manifestantes e os levaram em vans.

Países europeus denunciaram a posse de Lukashenko. A Alemanha declarou não reconhecê-lo devido à falta de legitimidade democrática. Em um evento excepcional, a cerimônia de posse só foi anunciada pela agência oficial Belta e pela presidência depois de concluída.

Dezenas de manifestantes foram presos em Minsk em protestos contra o governo Foto: TUT.BY/AFP

"Alexander Lukashenko prestou juramento no idioma bielo-russo, depois assinou o documento e a presidente da Comissão Eleitoral entregou o certificado de presidente da República da Bielo-Rússia", anunciou a agência estatal de notícias Belta, seguida pelo site da presidência.

A imprensa local relatou que dezenas de pessoas ficaram feridas nos primeiros confrontos entre manifestantes e a polícia, que também utilizou gás lacrimogêneo para dispersar a multidão. 

Entre os feridos há uma mulher idosa, vários homens que foram golpeados, uma mulher com a cabeça ensanguentada e uma outra que foi atingida por um policial no estômago.

Muitos dos policiais estavam vestidos de preto, acusados por ativistas dos direitos humanos de fazer uso desproporcional da força. 

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Presidente Alexander Lukashenko tomou posse em cerimônia secreta em Minsk que só foi divulgada após o término Foto: Maxim Guchek, BelTA/Pool Photo via AP

Durante a manhã, os meios de comunicação independentes e as plataformas da oposição já haviam mencionado a possibilidade de a posse ocorrer, depois que o cortejo presidencial foi observado percorrendo a cidade em alta velocidade. A principal avenida de Minsk foi fechada ao público e um grande dispositivo policial foi mobilizado ao redor da sede presidencial.

"Essa posse alegada é claramente uma farsa", denunciou Svetlana Tikhanovskaya, principal rival de Lukashenko, em um comunicado no aplicativo Telegram. Essa política novata, exilada na Lituânia, reivindicou mais uma vez sua vitória nas urnas da eleição presidencial de agosto.

O porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, declarou em entrevista coletiva que "não foram cumpridas as exigências mínimas para eleições democráticas".

Líder opositora Svetlana Tikhanovskaya denuncia abusos do governo Lukashenko em Bruxelas Foto: John Thys/AFP

Já o ministro das Relações Exteriores lituano ironizou a cerimônia. "Que farsa! Eleições fraudulentas, posse fraudulenta", tuitou Linas Linkevicius.

'Revolução de cor'

Para os opositores e a imprensa independente, a cerimônia, que deveria acontecer até 9 de outubro, foi organizada em sigilo para não virar um novo catalisador de uma grande manifestação.

De acordo com a Ucrânia, os embaixadores não foram convidados, como de costume. Segundo a presidência bielo-russa, 700 pessoas compareceram.

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Em seu discurso, Lukashenko afirmou que seu país havia resistido a uma "revolução de cor" - apelido dado na ex-União Soviética aos movimentos populares que expulsaram os regimes autoritários do poder desde o início de 2000 na Ucrânia, Geórgia e Quirguistão. Para a Rússia e Lukashenko, foram revoltas apoiadas pelo Ocidente.

"Nosso Estado enfrentava um desafio sem precedentes (...), mas estamos entre os únicos, isso se não formos o único, onde a 'revolução de cor' não funcionou. É a decisão dos bielo-russos, que não queriam a queda de seu país", acrescentou.

Polícia usa canhões de água para reprimir manifestantes em Minsk Foto: TUT.BY / AFP

Depois, em imagens publicadas pela imprensa oficial, o presidente apareceu com um uniforme militar, discursando aos soldados em formação.

"Vocês salvaram a paz neste pedaço de terra, defenderam a soberania e a independência de nosso país", disse Lukashenko, que alega que os ocidentais pretendiam derrubá-lo para usar a Bielo-Rússia como trampolim para uma guerra contra a Rússia.

'Usurpador'

"Que preste o juramento dez vezes, para mim ele não é ninguém", disse à agência France Presse Valentina Sviatskaya, aposentada de 64 anos moradora de Minsk, segura de que o "povo furioso" continuará se manifestando.

"É oficial agora, um usurpador nos governa e vivemos sob uma ditadura", comentou Igor Kujarski, um empresário de 38 anos.

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Lukashenko enfrenta desde a eleição presidencial de 9 de agosto um desafio sem precedentes, com dezenas de milhares de pessoas a cada domingo nas ruas de Minsk para denunciar sua reeleição, considerada fraudulenta, apesar da repressão violenta aos protestos. 

Organizações acusam polícia da Bielo-Rússia de uso desproporcional da força Foto: AP

Líderes da oposição foram detidos ou forçados ao exílio, como a candidata Svetlana Tikhanovskaya, novata na política que reuniu multidões durante a campanha eleitoral e que reivindica a vitória nas urnas. 

Muitos jornalistas foram detidos, intimidados ou perderam as credenciais. Nesta quarta-feira, foi anunciada a detenção do diretor do site independente Nacha Niva.

Lukashenko, no poder desde 1994, acusa os ocidentais de orquestrar os protestos. Apelidado de o "último ditador da Europa", ele tem o apoio da Rússia, apesar de ter acusado Moscou antes das eleições de tentativa de desestabilizar seu governo. A UE ameaça adotar sanções contra Minsk, mas ainda não chegou a um acordo sobre o tema./AFP  e EFE 

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