Lula diz que muitos países ricos 'têm inveja' da solidez econômica do Brasil

Em Lima, presidente comentou relatório da CEPAL e destacou economia dos dois países.

PUBLICIDADE

Por Michelle Marinho
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, nesta sexta-feira em Lima, no Peru, que muitos países ricos "têm inveja" da solidez econômica do país. "Hoje muitos países ricos sentem inveja de não ter a mesma solidez econômica que nós temos, embora tenham mais tecnologia, patrimônio e mais dinheiro", disse Lula após uma reunião com o presidente peruano, Alan Garcia, ao destacar o desempenho econômico conseguido pelo Brasil e pelo Peru. De acordo com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), os dois países são as "locomotivas" da região. Segundo a CEPAL, Brasil e Peru liderariam o crescimento econômico em 2010 na América Latina. Agenda bilateral Apesar de comentar o bom momento das duas economias, um dos principais assuntos na agenda bilateral foi a integração energética. "Temos que concretizar a aliança energética para que possamos utilizar investimentos e máquinas brasileiras para gerar energia elétrica que beneficie o Brasil e de forma crescente, o Peru", afirmou o presidente Garcia. Ele também disse que a visita de Lula impulsiona a presença da Petrobrás no Peru com o objetivo de estabelecer um pólo petroquímico no sul do país, com o gás natural procedente de Camisea, uma das bacias mais importantes do continente americano. O presidente da Petrobrás, José Sergio Gabrielli, afirmou que a empresa brasileira deve investir um bilhão de dólares no Peru para a prospecção e a exploração de gás e petróleo até 2013. Além da cooperação energética, Alan Garcia e Lula assinaram acordos para a criação de uma região de integração fronteiriça e de cooperação econômica e tecnológica. Garcia disse que confia na continuidade da união bilateral, mesmo com o fim do governo Lula, o "peregrino da integração continental", segundo o presidente peruano. Ele também afirmou que se o presidente brasileiro for novamente eleito em 2014, poderá retomar os esforços desta integração. Hidrelétrica ula e Garcia também devem conversar ainda sobre o acordo para a construção da central hidrelétrica de Inambari, perto da fronteira com o Acre. Em abril deste ano, eles se reuniram em Rio Branco para assinar um convênio de cooperação energética. O acordo considerou a construção de seis centrais hidrelétricas em território peruano. A hidrelétrica de Inambari seria a primeira a ser construída. Com uma potência instalada de dos mil megawatts e um investimento de US$ 4 bilhões, Inambari geraria duas vezes mais energia que a maior hidrelétrica peruana. Apesar do investimento alto, o projeto é considerado polêmico para ecologistas e para habitantes da região onde a hidrelétrica será construída. Além de estar em uma zona próxima ao Parque Nacional Bahuaja Sonene, o projeto contempla uma divisão da energia produzida pouco equilibrada e que segundo autoridades locais, em curto prazo, só traria benefícios ao Brasil. Uma proposta do governo peruano considera que depois de construída, a hidrelétrica forneceria 80% da energia produzida para o Brasil e os 20% restantes abasteceriam o Peru. Esta porcentagem se incrementaria a favor do Peru até que a concessão a empresas brasileiras terminasse, depois de 30 anos. Teófilo Casas, ex-presidente da Electroperu, é uma dos críticos do projeto. "É preocupante. Podemos precisar dessa energia. A demanda cresce cerca de 400 MW por ano. Em cinco anos, o Peru requereria os 2 mil MW que produziria Inambari", afirma. Para o ministro das Relações Exteriores do Peru, José Antonio García Belaunde, se um país vai investir uma quantidade tão importante de dinheiro, deveria ter uma rentabilidade. "Eu acho que existe um excesso de zelo, não se deve confundir as coisas. Obviamente se realiza um estudo sobre o impacto ambiental e vai se preservar, evidentemente. Às vezes há inundações, mas podemos recuperar o que se perde com elas", afirmou o ministro. No primeiro trimestre de 2010 os dois presidentes voltam a se reunir para concluir o acordo de produção energética para atender a demanda interna do Brasil e do Peru. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.