22 de dezembro de 2010 | 12h08
MADRI - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu à Venezuela para pedir que Hugo Chávez "baixasse o tom com os EUA", segundo informações contidas em documentos diplomáticos de abril de 2005 vazados nesta quarta-feira, 22, pelo site WikiLeaks e publicadas no jornal espanhol El País.
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Segundo o relatório, Dirceu disse ter sido enviado por Lula em uma reunião com John Danilovich, então embaixador americano em Brasília. O ex-chefe de gabinete brasileiro teria pedido que o presidente venezuelano "deixasse de brincar com fogo", embora Chávez tenha continuado a criticar contundentemente os EUA e o então chefe de Estado americano, George W. Bush.
De acordo com o relatório enviado por Danilovich ao Departamento de Estado americano, Dirceu teria ido a Caracas "levando a contundente mensagem de que Chávez deveria renunciar a sua retórica de provocações e se concentrar nos problemas internos do seu país".
O embaixador explicou a Dirceu que a posição de Washington em relação a Chávez era de não contestar o venezuelano para não precisar dar explicações. "As provocações de Chávez contra os EUA prejudicam os interesses nacionais da Venezuela e são motivos de preocupação para o Brasil e outros países vizinhos", escreveu Danilovich.
Ainda segundo o relatório, Dirceu teria prometido comunicar Chávez de que todos os EUA, e não apenas a Casa Branca, começavam a ver Caracas como um problema e que "essa tensa situação não beneficiava nem ele e nem seu país". O embaixador ainda teria alertado o ex-ministro de que o silêncio brasileiro em relação ao líder venezuelano poderia gerar a impressão de que haveria uma aliança Brasil-Venezuela e que Chávez seria seu porta-voz.
Cuba
Dirceu ainda teria tratado da posição cubana em relação à Venezuela e argumentado que as tensões na América Latina não interessam a Havana, que "necessita de um ambiente de calmaria para trabalhar em soluções para sua frágil economia". De acordo com o documento, Dirceu teria dito que "se o governo dos EUA aliviassem o embargo em Cuba, a ilha seria irreconhecível el cinco anos".
O WikiLeaks começou a vazar no fim de novembro os mais de 250 mil documentos diplomáticos secretos obtidos pelo site, irritando Washington pelas revelações, que levaram à tona segredos e bastidores da política externa de Washington. A Casa Branca considerou o vazamento como "irresponsável".
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