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Lula recebe Evo Morales nesta sexta em Brasília

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente eleito da Bolívia, Evo Morales, será recebido nesta sexta no Palácio do Planalto, às 11h30, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, em seguida, lhe oferecerá um almoço no Palácio do Itamaraty. O almoço é uma deferência a Morales, uma vez que não é uma prática da democracia brasileira esse tipo de encontro com políticos que ainda não tomaram posse. Em princípio, está prevista uma entrevista coletiva de Morales no Itamaraty. Ainda não está confirmado um encontro que ele poderá ter com o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli. Durante sua permanência de quase um dia em Brasília, Morales tratará com o presidente Lula e demais autoridades de uma questão delicada: se o seu futuro governo vai estatizar ou não as companhias exploradoras de gás ou se permitirá associações como a que a Petrobrás pretende fazer com a Yacimientos Petrolíferos Fiscales de Bolívia. O gás da Bolívia Depois rodar o mundo em visitas a oito países e de lançar o "eixo" com Cuba e Venezuela, Morales certamente encontrará em Lula um "companheiro", que tenderá a apoiá-lo integralmente na questão do gás boliviano, no ponto de vista político. Do ponto de vista econômico, porém, a história é outra. O ex-líder cocaleiro também perceberá um Lula calçado em iniciativas para diminuir a dependência do mercado nacional em relação ao gás da Bolívia, cujo abastecimento é incerto devido à ameaça de estatização dos investimentos no setor petrolífero naquele país. Morales chega ao País na semana em que a Petrobrás anunciou investimentos de US$ 18 bilhões para produção de gás na bacia de Santos. Em 2010, a produção de gás nesses campos vai se igualar ao volume atual fornecido pela Bolívia, de 26 milhões de metros cúbicos ao dia. O encontro também se dará a apenas seis dias da nova reunião dos presidentes do Brasil, Argentina e Venezuela para tratar da construção do gasoduto que sairá de Puerto Ordaz e que passará pelo Brasil e os quatro países do Cone Sul. Essa jazida venezuelana é três vezes maior que a da Bolívia e, embora o governo brasileiro diplomaticamente diga que não será uma alternativa ao gás boliviano, certamente será uma fonte adicional desse recurso e diminuir a dependência do Brasil. Em Brasília, há consciência que a nacionalização dos investimentos na Bolívia, determinada pela Lei de Hidrocarbonetos é um passo sem volta. Para driblar uma possível estatização da Petrobrás naquele país, a companhia propõe uma associação com a YPFB (Yacimientos Petrolíferos Fiscales de Bolívia), a estatal que será ressuscitada. Uma eventual recusa dessa proposta poderá acarretar uma crise no setor, pela ausência de recursos humanos preparados para tocar esses negócios. A Petrobrás lidera os investimentos no setor de gás da Bolívia, com US$ 1,5 bilhão já desembolsado, e é responsável por cerca de 20% da arrecadação total de impostos em todos os níveis de governo do país. Garante uma receita de cerca de US$ 400 milhões anuais e o registro de US$ 700 milhões ao ano em exportações na balança comercial da Bolívia. O Brasil não quer perder esses investimentos. Mas tampouco a Bolívia de Morales quer perder tal arrecadação, como ficou claro nos seus discursos de campanha. Golpe Em princípio, Lula terá a missão de deixar claro a Morales que o Brasil será "generoso" com a Bolívia, em questões comerciais, e que espera ver o novo governo apresentar o pedido de ingresso do país ao Mercosul, como membro pleno. Essas posições foram expressas anteontem pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, ao lado de seu colega argentino, Jorge Taiana. A posse de Morales foi qualificada pelo chanceler brasileiro como "uma chance única" de uma boa parcela da população boliviana, de origem indígena, integrar-se plenamente à política local. Mas igualmente caberá a Lula dizer a Morales que o Brasil não embarcará no recém-lançado eixo Venezuela-Cuba-Bolívia e que não lhe interessa "abandonar" nem "contaminar" as relações com os Estados Unidos. O tema fez parte das conversas entre Amorim e subsecretário de Estado americano, Thomas Shannon, na última terça-feira, no mesmo dia em que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, acusava publicamente Washington de preparar um golpe de Estado para derrubar Morales. Como sinal de que tampouco quer apartar-se de seus companheiros, o presidente brasileiro deverá mostrar ao líder boliviano que estará pronto para ajudar no diálogo entre essa nova aliança e Washington.

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