Lula sugere que Irã siga exemplo do Brasil

Líder defende caráter civil de planos nucleares, após pedido de Obama

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Por Denise Chrispim Marin
Atualização:

Em sua primeira resposta ao pedido de engajamento feito pelos Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou ontem que o Irã deveria adotar o mesmo princípio de uso pacífico de energia nuclear vigente no Brasil. Na quinta-feira, Barack Obama pediu a Lula que tente dissuadir o governo do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, de prosseguir com seu programa nuclear militar, valendo-se da boa relação entre Brasília e Teerã e do compromisso brasileiro de desenvolver energia nuclear apenas para fins pacíficos. "Quero que o Irã pense sobre a energia nuclear e faça como o Brasil", afirmou Lula, durante entrevista após a cúpula do G-8, ao ser questionado sobre se atenderia ao pedido de Obama. O presidente acrescentou ainda que, assim como ainda espera a visita de Ahmadinejad ao Brasil - marcada para maio, adiada na última hora e ainda sem data prevista -, também pretende ir ao Irã com o objetivo de aprofundar as relações bilaterais. Obama, por sua vez, ao falar sobre sua preocupação com os "espantosos acontecimentos" que envolveram a reeleição de Ahmadinejad, em junho, declarou que também está "profundamente perturbado" com a proliferação de armas atômicas e com o que o "programa nuclear iraniano representa para o mundo". "Oferecemos um caminho para que o Irã assuma sua justa posição no mundo", afirmou Obama. "Mas esse direito implica em responsabilidades e esperamos que o Irã opte por cumpri-las." Em tom de recomendação, Obama acrescentou que o Irã deve seguir os mesmos passos do Brasil e da Índia, que seriam exemplos de países que desenvolvem seus programas nucleares com fins pacíficos. Com essa menção, o presidente americano confundiu conceitos e princípios e colocou no mesmo grupo dois países com orientações bastante diferentes nesse delicado campo. Apesar do interesse do Brasil em fechar um acordo de cooperação na área nuclear com a Índia, cada país conduziu seus programas com focos diferentes nos últimos 30 anos. Ao longo desse período, o Brasil determinou em sua Constituição o princípio do uso exclusivamente pacífico da energia atômica e assinou vários compromissos internacionais, entre eles o Acordo de Não-Proliferação Nuclear. A Índia, por sua vez, possui armas nucleares, mas, em agosto, assinou um acordo de salvaguardas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que cria uma brecha para a comunidade internacional intervir para evitar um possível conflito nuclear entre Índia e Paquistão.

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