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Lula vai a Israel com intenção de mediar negociações com palestinos

Por Denise Chrispim Marin
Atualização:

Com uma oferta de mediação brasileira apresentada em 2003 e ressuscitada agora no fim do mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva inicia amanhã uma visita oficial a Israel e aos territórios palestinos em um momento especialmente delicado para as negociações de paz, que os Estados Unidos desejam mediar. Ao desembarcar hoje em Tel-Aviv, Lula chegará com uma bagagem potencialmente explosiva: sua insistência em levar mais interlocutores para esse difícil diálogo, entre os quais o Brasil, e em interferir nas discussões internas entre a Autoridade Palestina (AP) e os radicais do Hamas. No auge das pretensões, o Brasil quer até mediar diretamente o diálogo entre o Fatah e o Hamas, que tomou o controle da Faixa de Gaza em junho de 2007, após derrotar as forças de segurança do movimento laico. Ontem, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, partiu de Israel, encerrando seu esforço para fazer avançar as negociações indiretas entre palestinos e israelenses. Sua visita foi prejudicada pelo anúncio de Israel de que pretende construir 1.600 casas em Jerusalém Oriental.O argumento básico de Lula em favor de novos interlocutores é embalado pelo fracasso da mediação dos EUA. Um ministro próximo a Lula esmiuçou assim, na semana passada, a crítica à atuação de Washington: os EUA são parte interessada, estão atrelados ao ponto de vista de Israel. A mesma fonte lembrou que, apesar dos avanços iniciais nas negociações que mediou, a Casa Branca não conseguiu fechar um acordo capaz de permitir a convivência pacífica e segura entre os dois lados. "O Brasil está interessado em integrar esse processo, quer jogar em favor da paz. Mas não vai se apresentar como um salvador da pátria", disse o ministro. "Se a negociação ficar pendurada nos EUA, não sei se funcionará." País insuspeito. A primeira vez em que Lula se ofereceu para contribuir para a paz entre israelenses e palestinos foi em dezembro de 2003, quando se encontrou no Cairo com Nabil Shaath, então chanceler da AP. Segundo um diplomata, o mundo árabe recebeu bem a oferta pelo fato de o Brasil ser considerado um "país insuspeito", sem interesses políticos ou econômicos na região. Em novembro, Lula insistiu na oferta de mediação brasileira ao receber os presidentes de Israel, Shimon Peres, e da AP, Mahmoud Abbas. Apesar das negativas à interferência mais incisiva do Brasil, a Presidência e o Itamaraty insistem na possibilidade.

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