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Macron corta impostos para conter protestos de 'coletes amarelos'

Presidente francês anuncia medidas populares para desarticular movimento dos ‘coletes amarelos’ e aumentar confiança no governo

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Por Redação
Atualização:

PARIS - O presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou nesta quinta-feira, 25, um pacote de medidas em resposta ao movimento popular conhecido como “coletes amarelos”, que há 23 semanas protesta nas ruas do país contra o custo de vida, a carga tributária e os privilégios dos políticos. Entre outras ações, Macron prometeu cortar impostos e aumentar as aposentadorias.

O presidente francês Emmanuel Macron discursa em evento na cidade deGrand-Bourgtheroulde, na Normandia. Foto: Ludovic MARIN / AFP

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Nesta quinta-feira, 25, em um encontro com jornalistas, acompanhado na TV por milhões de franceses, o presidente reconheceu que o governo precisará trabalhar mais e gastar menos para compensar a menor arrecadação com os impostos e o aumento dos gastos com as aposentadorias e os bônus salariais prometidos. “Não quero aumentos de impostos. Quero uma redução para os que trabalham, diminuindo significativamente os tributos sobre a receita”, declarou.

O presidente também disse ser favorável ao fechamento da Escola Nacional de Administração, considerada elitista e obsoleta pelos manifestantes. O instituto forma a maior parte dos funcionários públicos do país – o próprio Macron estudou no local.

Macron defendeu ainda políticas duras contra a imigração ilegal na Europa – outro aceno aos manifestantes mais identificados aos políticos nacionalistas franceses. O presidente afirmou que deseja uma Europa “forte”, que proteja as fronteiras, mas saiba selecionar aqueles que estão realmente em perigo em outros países. “Para podermos dar boas-vindas, precisamos ter uma casa. Então, temos de ter fronteiras que sejam respeitadas. Precisamos de regras.”

Os protestos dos “coletes amarelos” começaram em novembro de 2018. Inicialmente, os atos eram contra o aumento de um imposto sobre combustível, para beneficiar uma transição para veículos mais ecológicos. No entanto, com o tempo, a insatisfação foi incorporando reclamações difusas, como custo de vida, impostos, privilégios da elite e aposentadorias.

Sem liderança específica, oposicionistas tanto da esquerda radical quanto da direita nacionalista tentaram capitalizar com as manifestações. Entretanto, cenas de violência e algumas mortes por atropelamento esvaziaram os protestos e minaram a imagem dos manifestantes.

Para tentar acabar com o movimento, Macron anunciou o que chamou de “grande debate nacional”, para encontrar uma saída. As medidas deveriam ter sido anunciadas no dia 15, mas o presidente decidiu adiá-las em razão da comoção causada pelo incêndio na Catedral de Notre-Dame.

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"Macron, renuncie!", gritaram alguns manifestantes. Alguns também levaramcaixões para lembraras mortes de 10 pessoasdurante os protestos até agora Foto: Philippe LOPEZ / AFP

“Os coletes amarelos são um movimento inédito que mostrou a raiva e a impaciência para que as coisas mudem e para que o povo francês continue a progredir num mundo incerto. Este movimento foi tomado pelos extremismos. Agora é a altura da ordem pública voltar”, disse Macron.

Além do corte de impostos e de melhorar o reajuste das aposentadorias, o presidente prometeu um bônus salarial e simplificar a convocação de referendos, intensificando a democracia direta. Ele garantiu também que não fechará nenhum hospital e escola até 2022 e propôs uma reforma para favorecer as regiões da França, descentralizando o poder político, hoje excessivamente concentrado em Paris.

No entanto, Macon não cedeu em algumas questões. O presidente rejeitou duas reivindicações dos coletes amarelos: a introdução do voto obrigatório e a exigência de que o voto em branco seja computado nas eleições. “O voto em branco é negligente. Não vou adotar essa medida porque já temos uma crise de ineficácia. Temos de fazer uma escolha no voto e essa escolha é importante. O branco não é uma decisão, é uma escolha fácil”, afirmou. “Sobre o voto obrigatório, não resolveremos nossa crise democrática na base da coerção”, disse Macron. / AP e REUTERS 

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