Maduro incorpora papel de sucessor e futuro candidato

Chanceler escolhido por Chávez para substituí-lo muda estilo e adota frases do líder venezuelano a quatro dias de eleição regional

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Por Rodrigo Cavalheiro e CARACAS
Atualização:

A quarta cirurgia do presidente venezuelano, Hugo Chávez, realizada ao longo de seis horas na terça-feira em Havana, causou efeitos colaterais no vice-presidente Nicolás Maduro. O "moderado, pragmático e discreto" chanceler aceitou, na prática, sua unção como sucessor e incorporou, a quatro dias das eleições estaduais, trocadilhos e provocações popularizados pelo líder bolivariano em 14 anos no poder. "A burguesia quer dólares, mas lhe daremos dores", disse Maduro, arrancando aplausos e gritos de apoio de centenas de chavistas reunidos para uma missa na Praça Bolívar, centro de Caracas, animados pela notícia de que o presidente tinha resistido à complexa operação em Cuba. Durante 15 minutos, Maduro chorou, provocou a oposição e usou a enfermidade de Chávez para motivar a militância. "O presidente merece que elejamos os 23 governadores no domingo. Queremos a Venezuela 'roja, rojita' (vermelha, vermelhinha)", completou, usando outra das expressões preferidas do líder bolivariano. Durante o discurso em que arremeteu contra o "imperialismo americano" e enalteceu o regime cubano pelo tratamento dado a Chávez, Maduro fez breves interrupções para responder a gritos vindos da plateia. Simplicidade. Ao final, Maduro não fugiu do contato direto com os chavistas e arrancou elogios de membros da guarda bolivariana pela sua simplicidade. "Viu que ele saiu dirigindo o próprio carro?", espantou-se um policial. "É, pouco a pouco as pessoas se acostumam", respondeu outro.A mudança de estilo do chanceler é considerada por Omar Noria, professor de ciências políticas da Universidade Simón Bolívar, um sinal de que Maduro aceitou o papel de substituto. No sábado, Chávez anunciou em cadeia nacional que partia para Cuba para uma nova cirurgia, considerada por ele mesmo de "alto risco", e pediu aos venezuelanos que votassem em Maduro em caso de nova eleição. Nos comícios nos quais acompanha os representantes do governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), Maduro tem falado tanto ou mais que os próprios candidatos a governador. "Assumir o papel de sucessor é normal, já que Chávez o nomeou. Mas ele utilizou um arsenal de adjetivos próprios do discurso chavista que nem mesmo Elias Jaua, que ficou durante anos na função de vice-presidente, um dia se atreveu a usar", avalia Noria. A principal disputa da eleição de domingo ocorre em Miranda, que engloba parte do município de Caracas, onde Henrique Capriles, derrotado por Chávez nas eleições presidenciais de outubro, tenta se reeleger. Mais do que um novo mandato, Capriles busca se firmar como candidato da Mesa da Unidade Democrática (MUD), coalizão heterogênea de partidos cuja única afinidade é derrotar o chavismo. Capriles enfrentará Jaua, o vice-presidente preterido por Chávez em outubro. O vice na Venezuela é um cargo de confiança que o presidente pode mudar a qualquer momento. Unidades. Na tarde de ontem, Maduro usou a rede nacional para falar da recuperação de Chávez. Afirmou que recebeu ainda de madrugada o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, tão logo ele chegou de Cuba. Com semblante fechado, Maduro declarou: "Antes de partir, nosso comandante pediu que o povo esteja serenamente preparado para esses dias duros. É preciso ser objetivo. O cenário é complexo e difícil e só pode ser enfrentado com a unidade do povo, com a unidade das forças políticas, com a unidade da gente humilde. Podemos dizer que estamos mais unidos que nunca. Primeiro, unidos espiritualmente. Depois, unidos politicamente", afirmou. A obsessão pela palavra união e suas variáveis parece ser uma estratégia chavista. Ontem, uma missa em Caracas que teve transmissão completa pela estatal Venezolana de Televisión, foi batizada Oração pela Unidade. Caso Chávez morra ou não tenha condições de tomar posse para seu quarto mandato, no dia 10, caberá a Cabello assumir interinamente e convocar novas eleições presidenciais. Se Chávez se recuperar, tomar posse, mas morrer ou se tornar incapaz de concluir os quatro primeiros anos do mandato, o vice-presidente - no caso, Maduro - assume e convoca eleição em 30 dias.

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