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Maduro pede ‘medidas especiais’ contra mídia e oposição da Venezuela

Presidente venezuelano quer ações drásticas da procuradoria para evitar notícias sobre o desabastecimento

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Por Redação
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CARACAS - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ampliou nesta terça-feira, 1, uma ofensiva contra a oposição e a imprensa privada venezuelana. Ele também acusou o governo dos EUA de ingerência em assuntos internos do país, após a expulsão de três funcionários da Embaixada americana. Para analistas, Maduro radicaliza seu discurso de olho nas eleições municipais de dezembro, tidas como um referendo dos primeiros meses de governo.

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Depois de o líder chavista ter pedido no fim de semana à Procuradoria-Geral da Venezuela a adoção de "medidas especiais" contra meios de comunicação que, na sua visão, estimulam uma corrida desenfreada às compras ao noticiar a crise de desabastecimento no país, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) criticou o que chamou de "padrão duplo" do governo venezuelano contra a mídia.

Segundo a entidade que representa os jornais do continente, Maduro ataca a cobertura da imprensa sobre o desabastecimento no país enquanto impede o acesso dos diários venezuelanos a tinta e papel-jornal, insumos básicos para a produção dos periódicos. Ainda de acordo com a SIP, as medidas atingem majoritariamente publicações regionais, como os jornais El Sol de Maturí, Antorcha, El Caribazo e El Caribe. No fim de semana, o jornal Impulso denunciou em editorial a prática.

"Vários periódicos do país deixaram de ser publicados por falta de matéria-prima", afirmou por meio de nota o presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa da SIP, o uruguaio Claudio Paolillo. "Por um lado o governo acusa os empresários privados de especular e causar a escassez de produtos de primeira necessidade, mas omite a falta de insumos para a publicação de jornais, sendo que é o único responsável por permitir sua importação."

A nova ofensiva chavista contra a imprensa, começou no sábado, com o pedido para a procuradoria tomar medidas contra uma suposta guerra psicológica e midiática. "Isso é propaganda de guerra. A mídia escrita, televisiva e de rádio está promovendo uma guerra psicológica contra a segurança alimentar do povo", disse Maduro, sobre as reportagens sobre o desabastecimento. "Isso não pode ficar impune". Segundo o Banco Central da Venezuela, o índice de desabastecimento do país é de 20%.

Retórica. Maduro voltou suas críticas para os Estados Unidos e setores do empresariado venezuelano. Segundo o sucessor de Hugo Chávez, a diplomacia americana estaria conspirando com a oposição contra o governo. "Querem transformar o Estado de Bolívar na nossa Benghazi", disse Maduro, em alusão à província líbia na qual a oposição que derrubou o ditador Muamar Kadafi se organizou, com ajuda ocidental. "Não posso permitir que nenhum governo se intrometa em nossos assuntos internos."

O chavista acusou líderes empresariais venezuelanos de entidades patronais como a Fedecámaras e Consecomercio de atuar "no limite da legalidade" no fornecimento de alimentos.

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Para o sociólogo Luis Vicente León, do Instituto Datanálisis, o chavismo trabalha com uma estratégia de radicalização do discurso com base nas eleições de 7 de dezembro. "Maduro quer impedir a todo custo que o desabastecimento se torne um tema de campanha. Por isso, ameaça a imprensa com a censura, ou com a autocensura", avaliou León ao Estado.

"Isso se insere numa lógica de seu mandato na qual a política é radicalizada, para impedir a oposição de se comunicar com o eleitorado. A eleição está sendo vista como um referendo sobre o governo de Maduro." / EFE, COM LUIZ RAATZ

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