PUBLICIDADE

‘Mãe, filha e boneca’: retrato da perda de direitos das mulheres viraliza após Taleban tomar o poder

Obra é assinada por Boushra Almutawakel, primeira fotógrafa mulher reconhecida no Iêmen

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

CABUL - Desde o domingo, quando o Taleban tomou o poder no Afeganistão, a imagem “Mãe, filha e boneca” ganhou as redes sociais por mostrar o temor das mulheres que perdem seus direitos sob o comando de qualquer grupo que siga a lei radical do Islã. A série de fotografias feita em 2010 reflete agora o medo das mulheres afegãs: perder os direitos que conquistaram desde 2001.

PUBLICIDADE

Originalmente, a obra da iemenita Boushra Almutawakel é composta por oito imagens de uma mulher com uma menina no colo, que, por sua vez, segura uma boneca. A cada foto, as três vão ganhando mais peças de roupas até estarem completamente cobertas por uma burca preta - que cobre todo o corpo e rosto - e, por fim, desaparecerem atrás de um pano preto.

Boushra foi a primeira fotógrafa mulher reconhecida no Iêmen e desafiou as regras religiosas e culturais de seu país com a arte. Muitos de seus trabalhos falam sobre os direitos das mulheres e o papel delas em sociedades dominadas por homens. Em outra obra reconhecida, “E se”, a fotógrafa retrata a transformação de um casal, com a mulher deixando de usar o traje islâmico e o homem “ganhando” as vestes, que se tornam a burca preta.

A obra 'Mãe, filha e boneca', da fotógrafa Boushra Almutawakel Foto: Reprodução Instagram/@boushraart

No Afeganistão, entre os anos 1996 e 2001, quando o Taleban estava no poder e governava impondo a sharia (lei islâmica), a burca foi o símbolo da opressão que as mulheres sofriam. As escolas femininas foram fechadas, as mulheres não podiam viajar ou trabalhar e foram forçadas a usar a burca em público, com uma tela de tecido ao nível dos olhos.

Além disso, as mulheres não podiam deixar suas casas sem que um parente homem as acompanhasse. Flagelações e execuções, incluindo apedrejamento por adultério, também ocorriam em praças e estádios da cidade.

As oito imagens de Boushra fizeram sucesso justamente por retratar, visualmente, o impacto dessa perda de direitos e o “desaparecimento” da mulher. 

Promessas 

Publicidade

Vinte anos depois de serem tirados do poder pelos Estados Unidos, os taleban agora voltam e adotam um discurso diferente, prometendo moderação. Analistas afirmam que ainda não é possível saber se a coletiva dada nesta terça-feira, 17, é um comprometimento por mudanças ou uma forma de ganhar credibilidade dentro do Afeganistão. 

De toda forma, uma das promessas é a de não obrigar as mulheres a usarem a burca. “A burca não é o único hijab (véu) que pode ser usado. Existem diferentes tipos de hijab que não se limitam à burca", afirmou Suhail Shaheen, porta-voz do gabinete político do Taleban em Doha, à Sky News.

Shaheen também falou sobre educação para as meninas. "Elas poderão receber educação, do primário à universidade. Anunciamos essa política durante conferências internacionais, na conferência de Moscou e aqui na conferência de Doha (sobre o Afeganistão)”, disse. Segundo ele, milhares de escolas em áreas controladas pelos insurgentes permanecem abertas.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.