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Mais brasileiros deportados dos EUA chegam ao Brasil

Grupo viajou algemado; avião é o sexto deste ano e sétimo desde que voos foram reativados com a anuência do governo Bolsonaro

Por Leonardo Augusto
Atualização:

BELO HORIZONTE - Brasileiros deportados dos Estados Unidos depois de tentarem entrar ilegalmente no país voltaram a viajar algemados conforme relatos de outro grupo expulso que desembarcou na tarde de hoje, 6, no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, na Região Metropolitana da capital. Do grupo que desembarcou hoje, um total de 55 pessoas, todos os homens e mulheres que não estavam com crianças vieram com algemas nos pés e mãos.

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O Estado mostrou que, em voo que chegou a Confins em 24 de janeiro, deportados também viajaram algemados. Um dos brasileiros expulsos que chegaram na tarde de hoje não sabem explicar os motivos que os levam a ser algemados. Um deles é Danilo Dias, de 25 anos, que combinou com a noiva, Barbara de Almeida Mauro, de ir para os Estados Unidos e, caso conseguisse entrar, a levaria para lá, pelas vias legais. O casal é de Ipanema, no Vale do Aço.

Danilo, que trabalha como pintor, afirma que tinha emprego garantido em Nova York. "Não deu certo. Agora é reconstruir a vida aqui", diz Barbara, que acabou de se formar em direito. Danilo foi preso no Texas, no dia 21 de janeiro depois de cruzar a fronteira. A polícia o encontrou escondido sob uma carreta. Ficou, até a volta hoje ao Brasil, em um centro de imigração e na Penitenciária de Otero, em El Paso, Texas. Assinou carta de deportação e concordou em ficar cinco anos proibido de entrar no país. "É um filme de terror. A gente acha que vai ser de um jeito, e, na verdade, é outro", diz.

Danilo Dias, de 25 anos, com a noiva, Barbara de Almeida Mauro: 'Éum filme de terror', conta o pintor Foto: Leonardo Augusto/Estadão

O chamado "sonho americano", a tentativa de encontrar um emprego nos Estados Unidos, não deu certo para um total de 481 brasileiros somente entre outubro e o início deste mês. Todos foram deportados pelo governo de Donald Trump depois de tentarem entrar ilegalmente no país via fronteira com o México. Esse período de retorno compulsório marca a entrada em vigor de acordo entre os Estados Unidos e o Brasil, no governo Jair Bolsonaro, para facilitar deportações, eliminando trâmites burocráticos. Mais dois voos com deportados brasileiros estão marcados para chegar dos EUA, nos próximos dias 9 e 13.

Entre 26 de outubro do ano passado e hoje, 6, sete voos chegaram ao Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, na Região Metropolitana, trazendo deportados. A maioria, mineiros do Leste do estado. Por isso, as chegadas ocorrem pelo aeroporto próximo à capital. Há também, no entanto, paraenses, rondonenses. Todos chegam com a roupa do corpo, muitos usando os sapatos fornecidos pelas autoridades dos EUA a quem está nos centros de imigração, para onde são levados, aos serem interceptados na fronteira.

As viagens, em sua maioria, são organizadas pelos chamados coiotes, um grupo de pessoas em pelo menos três países, Brasil, México e Estados Unidos, que se encarrega de comprar a passagem aérea e dar orientações sobre os locais da travessia na fronteira entre os dois países da América do Norte. Os coiotes raramente aparecem e exigem silêncio de seus "clientes". Relato de um dos deportados que chegou a Confins em voo anterior ao de hoje mostra que todo o contato para tentativa de entrada nos EUA foi feito via Whatsapp, inclusive a chegada da passagem para a viagem.

Um dos acordos feito entre os imigrantes e os coiotes para as tentativas de entrada ilegal nos EUA envolve pagamento dos custos da viagem depois da chegada ao país. "Não paguei nada", afirmou outro deportado na chegada a Confins, em voo de fevereiro. Perguntado sobre como funcionava o esquema, desconversou. O procedimento é o contrário do que se observava dez anos ou 15 anos atrás, quando era comum ouvir de imigrantes que haviam conseguido entrar ilegalmente no país, e depois retornado ao Brasil, que haviam "vendido tudo", ou conseguido empréstimo, para a travessia.

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O perfil de quem tenta a entrada ilegal nos Estados Unidos, porém, não mudou. São pedreiros, motoristas de máquinas pesadas, agricultores com idade que raramente ultrapassa os 40 anos. A diferença entre o que ocorria anteriormente e agora é que antes, a grande maioria dos imigrantes ilegais era formada por homens. 

Nas deportações que iniciaram em outubro, ficou claro que famílias inteiras estão tentando a travessia ilegal. Em um dos voos, metade dos passageiros deportados era formada por menores, muitos com menos de 10 anos. "Me disseram que levando crianças a entrada era certa", disse o pedreiro Reginaldo Aparecido Pereira, de 29 anos, um dos deportados, juntamente com a mulher e dois filhos, um de 4 e outro de 8 anos, em voo chegou a Confins no dia 2.

"Vou pegar o dinheiro de volta"

Victor Thiago Martins Garcia e a esposa Larissa Moreira tentaram pedir asilo nos EUA Foto: Leonardo Augusto/Estadão

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O casal Larissa Moreira e Victor Thiago Martins Garcia, juntamente com o filho menor também estavam no voo que chegou hoje a Confins. A família é de Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Pelo esquema que usaram para entrar no país, comum entre os deportados que estão retornando ao Brasil nos últimos meses, as pessoas se entregam aos policiais da fronteira e, em seguida, pedem asilo. A família se entregou às autoridades no dia 6 de fevereiro.

"Mas, agora, não estão aceitando qualquer tipo de asilo. Só político", afirma Larissa. O casal tentou asilo alegando que sofriam ameaça de morte no Brasil. Mas acabaram desistindo de tocar o processo. Victor é tratorista e Larissa trabalhava no mercado de Uberlândia. "Peguei o dinheiro do acerto do emprego que tinha, juntei uma outra parte e paguei o agenciador (coiote). Agora, vou pegar o dinheiro de volta", afirma Victor. O tratorista afirmou que o agenciador fez esse acordo, de devolver o dinheiro, cerca de US$ 8 mil, caso a travessia não desse certo.

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