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Mais de 700 prefeitos catalães pró-plebiscito desafiam Madri em grande manifestação

Mais de dois terços dos prefeitos da região se comprometeram a ceder locais em suas jurisdições para votar no dia 1º no plebiscito convocado pelo governo regional

Atualização:

BARCELONA - Aos gritos de "votaremos" e de "independência", mais de 700 dos 948 prefeitos da Catalunha mostraram neste sábado, 16, em Barcelona, sua determinação para organizar o plebiscito de autodeterminação para essa região do nordeste do país.

Mais de dois terços dos prefeitos da região se comprometeram a ceder locais em suas jurisdições para votar no dia 1º no plebiscito convocado pelo governo regional. A consulta foi declarada ilegal pelo Tribunal Constitucional e conta com a oposição do governo central de Madri.

Mais de 700 dos 948 prefeitos da Catalunha mostraram neste sábado, 16, em Barcelona, sua determinação para organizar o plebiscito de autodeterminação Foto: AP Photo/Manu Fernandez

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Os prefeitos cantaram o hino catalão, Els segadors, enquanto outros manifestantes, muitos deles com bandeiras separatistas, davam seu apoio do lado de fora da sede do governo: "Estamos com vocês!".

Nas ruas de Bilbao, País Basco (norte), milhares de pessoas se manifestaram neste sábado, até 35 mil segundo os organizadores, para expressar o seu apoio ao referendo catalão.

Na quarta-feira, a Procuradoria-Geral da Espanha ordenou aos procuradores da Catalunha que convoquem judicialmente - na qualidade de "investigados" - os prefeitos dispostos a cooperar com a "organização do referendo ilegal" e, se não comparecerem, que se determine sua detenção.

Ao receber os prefeitos, o presidente catalão, Carles Puigdemont, rebateu as "ameaças" do chefe de governo espanhol, Mariano Rajoy: "Não subestimem a força do povo da Catalunha, que optou por decidir".

Na noite de sexta-feira, em Barcelona, Rajoy alertou aos separatistas para que "não subestimem a força da democracia espanhola".

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O porta-voz do Executivo central, Íñigo Méndez de Vigo, advertiu que "ou se está com a lei, ou se está contra a lei". "Não se deixam as chaves e 'eu não quero saber de nada'. É uma atitude de pouco fundamento", disse. 

"Não somos criminosos", repetiam muitos prefeitos. "Há uma infinidade de anos que os catalães pedem mais poder, sobretudo, no tema fiscal", afirmou o prefeito de La Maso (300 habitantes), Josep Sole, de 74, integrante da Associação de Municípios pela Independência (AMI).

"Não me manifesto a favor da independência, mas a favor da votação", declarou à agência France-Press. "Pedir uma opinião não é uma coisa ruim na democracia", argumenta a pró-independência Sara Janer, que é, aos 26 anos, a prefeita mais jovem da Catalunha.

Manifestantes pró-plebiscito se reúnem em Bilbao Foto: AP Photo/Alvaro Barrientos

Em Pontils, povoado de 120 habitantes, "me elegeram para ouvi-los e, se o governo catalão dá a oportunidade de se expressarem, temos que colocar as urnas", afirma. "Os catalães querem muito se expressar, isso é evidente", insistiu.

Os separatistas são maioria no Parlamento regional desde 2015, mas a sociedade catalã se mostra muito dividida diante da independência, como mostrou uma pesquisa do governo regional feita em julho. Na enquete, 49,4% seriam contra a separação, e 41,06%, a favor.

Nas eleições regionais de setembro de 2015, os partidos separatistas obtiveram 47,6% dos votos. Os defensores da permanência na Espanha somaram 51,28%.

Em meio à polêmica, 70% dos catalães são a favor de resolver a questão por meio de um referendo.

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A prefeita de esquerda da capital catalã, Barcelona (1,6 milhão de habitantes), Ada Colau, mostrou sua "solidariedade" para com os prefeitos pró-plebiscito, ao recebê-los na Prefeitura.

"É uma vergonha: um Estado incapaz de amparar o povo da Catalunha, um Estado incapaz de oferecer uma resposta política", criticou Ada. "O futuro será construído com os prefeitos que estão aqui e com os que não estão", continuou.

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Ela evitou se envolver diretamente na organização do plebiscito, embora tenha anunciado que os habitantes de Barcelona poderão votar, mas sem explicar como. Posteriormente, Puigdemont disse ter chegado a um acordo com a prefeita.

O referendo é rejeitado em 122 prefeituras governadas por socialistas, que veem a consulta como uma ameaça à unidade da Espanha. Muitos governantes relatam sofrer ameaças.

"Sofro pressões especialmente agressivas, basicamente nas redes sociais. São dezenas de insultos de todo o tipo, vindo de contas anônimas (nas redes sociais)", desabafa a prefeita de Lérida (125 mil habitantes), Àngel Ros, mencionando "uma situação tensa e preocupante". / AFP 

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