Mais de um milhão assistem à beatificação de João Paulo II

Papa Bento XVI disse que decidiu acelerar o processo de beatificação devido à grande veneração

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Por Assimina Vlahou
Atualização:

Visão geral da praça de São Pedro mostra multidão durante beatificação

 

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ROMA - Superando as previsões, mais de um milhão de peregrinos e fiéis vindos de várias partes do mundo lotaram neste domingo, 1, a cidade de Roma para assistir à cerimônia de beatificação do papa João Paulo II na praça de São Pedro, de acordo com o porta voz do Vaticano, citando fontes da Secretaria de Segurança de Roma.

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Devido à pressão dos peregrinos, a polícia italiana foi obrigada a abrir as cancelas que dão acesso à praça de São Pedro quatro horas antes do previsto. Milhares de pessoas não puderam chegar ao local e tiveram que se dirigir para outras áreas da cidade de Roma, onde foram instalados telões, para acompanhar a cerimônia. Um grupo de brasileiros do Distrito Federal chegou às quatro horas da manhã para pegar um bom lugar próximo à praça de São Pedro. Mesmo não estando muito próximos, estavam emocionados. "Chegamos sábado no fim da tarde de Brasília. Às quatro da manha já estávamos aqui", disse à BBC Brasil João Carlos de Almeida, 54 anos, empunhando uma grande bandeira do Brasil. "A cerimônia foi maravilhosa, emocionante. João Paulo II foi santo em vida e mudou o mundo com sua presença".

 

Carisma A presença de mais de um milhão de pessoas, num clima de grande comoção, confirma mais uma vez o grande carisma de João Paulo II, que foi lembrado pelo papa Bento XVI no sermão que fez durante a cerimônia. Em sua homília, Bento XVI explicou que o motivo pelo qual decidiu acelerar o processo de beatificação - último estágio antes da santidade - de seu predecessor foi a grande veneração popular por João Paulo II. "Passaram-se seis anos desde o dia em que nos encontrávamos nesta praça para celebrar o funeral do papa João Paulo II. Já naquele dia sentíamos pairar o perfume de sua santidade, tendo o povo de Deus manifestado de muitas maneiras a sua veneração por ele". "Por isso, quis que a sua causa de beatificação pudesse, no devido respeito pelas normas da Igreja, prosseguir com discreta celeridade. E o dia chegou porque assim quis o Senhor: João Paulo II é beato, por sua forte e generosa fé apostólica".

 

"Hoje nos nossos olhos brilha, na plena luz de Cristo ressuscitado, a amada e venerada figura de João Paulo II. Seu nome junta-se à série de santos e beatos que ele mesmo proclamou durante os quase 27 anos de pontificado".

 

Delegações oficiais A cerimônia de beatificação de João Paulo II foi presidida pelo papa Bento XVI e concelebrada por todo o colégio cardinalício. Além dos peregrinos e fiéis vindos de diversos países, 87 delegações oficiais presenciaram a cerimônia. O Brasil foi representado pelo vice-presidente Michel Temer. Logo no início da cerimônia, após a leitura de uma breve biografia de João Paulo II, o cardeal vigário de Roma, Agostino Vallini, pediu formalmente ao papa para inscrever o nome de seu predecessor no elenco dos beatos. O papa leu a fórmula da beatificação. "Concedemos que o venerável servo de Deus, João Paulo II, papa, de agora em diante, seja chamado de beato e seja celebrado no dia 22 de outubro".

 

Logo após a proclamação do novo beato, um grande retrato de João Paulo II foi exposto na fachada da basílica, sob os aplausos da multidão e o papa Bento XVI recebeu a relíquia que contém o sangue de Karol Wojtyla e a beijou.

 

Milagre A relíquia foi entregue ao papa pela religiosa francesa Marie Simon Pierre Normand, que havia sido curada por intercessão de João Paulo II do mal de Parkinson. O milagre foi decisivo para a conclusão do processo de beatificação. Durante a homília, Bento XVI disse que, em seu testamento, João Paulo II recordou as palavras que lhe foram ditas ao ser eleito papa, pelo cardeal primaz da Polônia, Stefan Wyszynski: "A missão do novo papa será de introduzir a Igreja no terceiro Milênio".

 

Bento XVI disse que, no testamento, João Paulo II agradeceu por ter participado do Concílio Vaticano 2°, do qual disse sentir-se "devedor", e recordou também as palavras de seu predecessor em sua primeira missa solene, após ter sido eleito, em outubro de 1978. "Não tenhais medo, abri, melhor, escancarai as portas a Cristo".

 

"Aquilo que o papa recém-eleito pedia a todos, começou ele mesmo a fazê-lo. Abriu a Cristo a sociedade, a cultura, os sistemas políticos, econômicos, invertendo uma tendência que parecia irreversível. Ajudou os cristãos de todo o mundo a não ter medo de se dizer cristãos." Marxismo x Cristianismo Segundo o papa, João Paulo II favoreceu uma grande reflexão sobre a confrontação entre marxismo e cristianismo centrada no homem. E conquistou espaço para o cristianismo. "A sua mensagem foi esta: o homem é o caminho da Igreja e Cristo é o caminho do homem"."Aquela carga de esperança que fora cedida ao marxismo e à ideologia do progresso, João Paulo II legitimamente reivindicou-a para o cristianismo, restituindo-lhe a fisionomia autêntica da esperança". Enfim, Bento XVI recordou os anos de convivência com seu predecessor. Joseph Ratzinger foi prefeito da congregação para a doutrina da fé, a mais importante da Santa Sé, durante 23 anos, desde 1982 até ser eleito papa em abril de 2005. Após a cerimônia, o papa Bento XVI, seguido pelos cardeais, entrou na basílica de São Pedro, para fazer uma homenagem ao novo beato, diante do altar central, onde foi exposto o caixão que contém os restos mortais de João Paulo II. O caixão ficará exposto para a veneração dos fiéis e depois será colocado, de forma definitiva, na capela de São Sebastião, do lado direito da basílica de São Pedro, ao lado da Pietà de Michelangelo.

 

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