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Mais do que apoiar Obama, latinos votam contra Romney

Eleição mostrou que eles se tornaram grande força política

Por É COLUNISTA , GANHADOR DO PRÊMIO PULITZER , ANDRES , OPPENHEIMER , THE MIAMI HERALD , É COLUNISTA , GANHADOR DO PRÊMIO PULITZER , ANDRES , OPPENHEIMER e THE MIAMI HERALD
Atualização:

A reeleição do presidente americano, Barack Obama, foi uma vitória extraordinária para os eleitores latinos, um triunfo que modificará as eleições americanas no futuro próximo. O êxito de Obama entre os latinos na eleição de terça-feira (o democrata obteve os votos de 71% dos eleitores latinos dos EUA, contra 27% de Mitt Romney) indica que, nos próximos anos, nenhum candidato a presidente dos Estados Unidos poderá dar as costas para os hispânicos ou propor medidas amplamente impopulares entre eles, como o republicano fez durante esta campanha. Como antecipei dezenas de vezes nesta coluna, e tornei a prever no último texto que escrevi antes da eleição, publicado no domingo passado, Romney entrará para a história como o candidato republicano que obteve a menor parcela de votos latinos nos últimos anos. De acordo com pesquisas de boca de urna, Romney foi escolhido por apenas 27% dos eleitores latinos, um porcentual muito inferior aos 35% que votaram em George W. Bush em 2000, aos 40% que optaram pelo mesmo Bush em 2004 e aos 31% que apoiaram o senador John McCain em 2008. O desempenho desastroso de Romney entre os hispânicos, que foi um dos principais fatores que o fizeram perder a eleição, não é de espantar: em temas como imigração, saúde, impostos, educação e controle de armas, ele invariavelmente cerrou fileiras com a extrema direita do Partido Republicano, aliando-se até à ala dos radicais xenófobos, defensores de políticas anti-imigração. Ainda que a questão da imigração não fosse a principal preocupação dos latinos, alguma importância tinha. Muitos deles conhecem pessoas trabalhadoras e esforçadas que não têm visto de permanência nos EUA. E o apoio de Romney à draconiana lei de imigração do Arizona disseminou o receio de que todos os latinos - detentores ou não de visto de permanência - passassem a ser importunados pelas autoridades policiais locais. Não foram apenas as posições de Romney que incomodaram. Seu tom agressivo e suas referências desumanizadoras a "illegal aliens" (alienígenas ilegais, em tradução literal) - sobretudo durante as primárias - causaram irritação no público latino. Romney pensou, equivocadamente, que poderia ganhar a eleição sem o voto dos hispânicos. Seu cálculo estratégico foi o de que a situação econômica se deterioraria tanto que a combinação de uma forte influência entre os eleitores do sexo masculino de cor branca com as tradicionais altas taxas de abstenção dos eleitores latinos o ajudaria a conquistar os votos de que ele precisava para vencer. Mas o republicano estava duplamente equivocado: a economia não apresentou a piora que ele previa e o número de latinos que compareceu às cabines de votação superou suas expectativas. Mesmo entre os imigrantes cubanos da Flórida, uma comunidade em que os conservadores são franca maioria, Obama obteve assombrosos 47% dos votos, quase o mesmo porcentual de Romney. De acordo com Sergio Bendixen, o principal especialista que Obama tinha em sua equipe para analisar o comportamento eleitoral dos eleitores latinos, em 2012 os hispânicos atingiram uma participação recorde no eleitorado americano, representando 10% das pessoas aptas a votar. Em 2008, eles eram 9%; em 2004, 7%; e em 2000, 6%. E Bendixen prevê que o porcentual de eleitores latinos chegará a 25% ao longo da próxima década. Talvez não seja um prognóstico tão exagerado assim: é possível contar com uma reforma na lei de imigração para o futuro próximo - o que trará milhões de novos eleitores latinos para o país. Além disso, a imigração ilegal continuará existindo, e não se pode descartar a hipótese de que nesse intervalo de tempo Porto Rico venha a se tornar um Estado americano. A eleição de 2012 não apenas transformou os latinos num contingente de eleitores capazes de decidir a eleição em Estados como Flórida, Colorado e Nevada, em que a disputa entre democratas e republicanos é sempre acirrada, como também possibilitou que ampliassem sua presença no Congresso, passando de 24 para 28 cadeiras na Câmara e de 2 para 3 no Senado. "Essa eleição teve um quê de divisor de águas", diz Gary Segura, diretor do instituto de pesquisas LatinoDecisions/Impremedia. "Pela primeira vez na história, os latinos podem legitimamente afirmar que seus votos foram decisivos." Minha opinião: a grande vitória que Obama obteve entre os latinos deveu-se, em parte, ao fato de que o Partido Republicano deslocou-se tanto para a direita em relação à maioria dos temas abordados durante a campanha, que muitos hispânicos - mais do que votar em Obama - votaram contra Romney. Assim, ou os republicanos aprendem alguma coisa com a derrota este ano, e se movem para o centro, ou podem dizer "adiós" à Casa Branca por um bom tempo. Com estimados 50 mil latinos chegando à idade de votar a cada 18 meses, e com o comparecimento crescente dessa fatia do eleitorado aos centros de votação, os hispânicos se tornaram uma força política formidável. Não importa se continuarão a votar majoritariamente nos democratas ou se passarão a se dividir entre os dois partidos. O fato é que estrearam oficialmente na condição de fator eleitoral decisivo. A eleição de 2012 talvez tenha sido a última em que um dos partidos se deu o luxo de virar as costas para a maioria dos eleitores latinos. Talvez também tenha sido a última eleição em que nenhum jornalista latino foi escalado para servir de moderador nos debates presidenciais, reduzindo as chances de que questões de interesse dos latinos e da América Latina fossem abordadas pelos candidatos. O gigante latino provou que não está dormindo. Isso é bom para os latinos, é bom para a América Latina e é bom para os Estados Unidos. / TRADUÇÃO DE ALEXANDRE HUBNER PONHO

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