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Mais três iranianos atearam fogo às suas roupas

Por Agencia Estado
Atualização:

A detenção pela polícia francesa de 165 refugiados iranianos, supostos membros do grupo extremista Mujahedin do Povo, continua provocando duros protestos, com tentativas de imolação, em várias cidades européias. Hoje, mais três iranianos puseram fogo em suas roupas - dois em Roma e um em Berna. Nenhum deles corre risco de morte. Pela manhã, as autoridades francesas haviam confirmado a morte de uma iraniana que, no dia anterior, se incendiou durante um protesto de refugiados diante da DST, o serviço de contra-espionagem francês. O governo francês não esperava uma resposta tão radical dos mujahedin nas imediações de Paris, em Auvers sur Oise (onde eles residiam), a sua decisão de desmantelar o grupo instalado há mais de duas décadas nas portas da capital. Imolando-se os refugiados pretendem também denunciar a forma escolhida pela França para retornar ao cenário do Oriente Médio, depois de ter sido marginalizada pelos americanos. Até agora, oito simpatizantes tentaram o suicídio pelo fogo (em Paris, Berna, Roma e Londres). O Irã já pediu a extradição dos militantes presos, mas dificilmente será atendido. Destruindo a base dos Mujahedin do Povo, Paris pretendeu dar uma satisfação ao governo de Teerã, que há muito tempo vinha exigindo a aniquilação do movimento que mantinha forte base logística na França. Ao mesmo tempo, o governo francês se coloca como possível intermediário entre o Irã e a Casa Branca, que parece ter escolhido o Irã como bola da vez, multiplicando seus ataques contra o regime dos aiatolás e apoiando os protestos de estudantes no Irã. Essa operação policial é considerada prova da cooperação franco-americana na região - um passo a mais na reaproximação entre Jacques Chirac e George W. Bush. A surpresa provocada pelos iranianos se imolando levou o diretor da DST, Pierre de Bosquet, a abandonar a discrição e justificar a blitz, com o argumento de que Auvers se transformara "no centro operacional mundial de um movimento terrorista - um perigo para a França". A partir do fim da guerra no Iraque (onde os mujahedin mantinham sua principal base), o grupo vinha transferindo seus arquivos para a França com o intuito de preparar uma série de atentados contra interesses iranianos na Europa. Isso explica a grande soma de dinheiro encontrada em seus cofres, cerca de US$ 8 milhões, que os pouco militantes ainda detidos estão tentando justificar. Entre eles está Myriam Radjavi, mulher do líder, Massud Radjavi. Hoje, ela lançou apelo aos membros do movimento para que cessem os protestos por imolação. O Mujahedin do Povo, segundo o Centro Nacional de Pesquisas Cientificas da França, desenvolve o culto da personalidade, exigindo grande fidelidade de seus membros e utilizando métodos de lavagem cerebral que o aproximam de algumas seitas radicais. Para o orientalista Olivier Roy, atacando os mujahedin, a maior organização no exterior de oposição ao regime iraniano, a França mantém o dialogo com o governo do Irã e surge como um eventual interlocutor entre esse país e os EUA, cujas relações diplomáticas continuam rompidas. Ainda segundo Roy, o governo francês pretendeu também enviar uma mensagem clara ao governo iraniano, confirmando a advertência que já havia feito o ministro do Exterior, Dominique de Villepin, durante recente viagem àquele país: "Agora, a bola está no seu campo. Reprimimos seus terroristas. Se vocês mantêm em seu território integrantes de Al-Qaeda devem agir da mesma forma."

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