Malvinas são pivô de tensões entre Argentina e Reino Unido

Estratégia argentina está focalizada em conseguir que Londres aceite discutir a soberania das ilhas, diz analista de instituto de pesquisa pró-Kirchner

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Por Agencia Estado
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As Malvinas serão o pivô do crescimento da tensão entre a Argentina e a Grã-Bretanha ao longo dos próximos meses, segundo Rosendo Fraga, diretor do Centro de Estudos Nueva Mayoría, que sustenta que o presidente Néstor Kirchner optou por deixar de lado a política mais sutil de aproximação diplomática aplicada nos anos 90 pelo então presidente Carlos Menem e passou a aplicar um estilo mais agressivo. Na semana passada, o governo Kirchner anunciou medidas de retaliação às empresas petrolíferas que realizam explorações - sob a legislação britânica - na plataforma marítima das Malvinas. Além disso, aplicou restrições à pesca na região do oceano Atlântico ao redor das ilhas, que considera como parte da Argentina, e prevê aumentar ainda mais as limitações. O governo britânico retrucou, aumentando em 25 anos as licenças para pesca, "o que mostra a decisão de manter uma posição firme" diante da Argentina, explica Fraga. "A estratégia argentina está focalizada em conseguir que a Grã-Bretanha aceite discutir a soberania das ilhas, mas, em minha opinião, dificilmente terá sucesso nisso a curto prazo". Bichos de pelúcia A política de Kirchner de endurecimento nas relações com Londres como estratégia para reaver as ilhas mostra uma guinada drástica em relação ao estilo aplicado nos anos 90 pelo governo do então presidente Carlos Menem (1989-99). "El Turco", como era conhecido popularmente, havia sido eleito prometendo recuperar as Malvinas "a sangre y fuego" (a sangue e fogo). Mas, logo depois da posse, deixou de lado o discurso agressivo e passou aplicar o que seu chanceler, Guido Di Tella, denominou de "política da sedução". Essa política consistia em aproximar-se dos kelpers e tentar convencê-los das hipotéticas benesses de ser argentino. Di Tella propôs aos ilhéus que aceitassem a cidadania argentina em troca de US$ 1 milhão. Além disso, enviou vídeos do desenho animado Winnie The Pooh aos kelpers. Perguntado pela imprensa na época se essa estratégia teria efeitos, Di Tella argumentou que "esta simpática figurinha (o ursinho em questão) enaltece os valores da amizade". Di Tella também enviou bichinhos de pelúcia aos 3 mil kelpers. Mas, os ilhéus não se seduziram com a exótica política de Menem. Os kelpers recusaram o dinheiro oferecido e enviaram os vídeos e bichinhos de pelúcia para as crianças órfãs da Bósnia. Menem até ofereceu aos kelpers a possibilidade de que as ilhas se transformassem em um grande centro para o estudo da língua inglesa "não só para os argentinos, mas para todos os estudantes do Mercosul". Na época, Menem argumentou: "para que ir estudar na Grã-Bretanha ou nos EUA? As Malvinas estão muito mais próximas!".

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