Maoístas estão perto da vitória no Nepal

Apuração indica que ex-rebeldes devem conquistar maioria na Assembléia Constituinte, que abolirá a monarquia

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Por AP , AFP e Katmandu
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Para surpresa de todos, os ex-rebeldes maoístas nepaleses estão liderando a apuração dos votos na histórica eleição da semana passada no Nepal. A vitória dos maoístas certamente levará ao fim da última monarquia hindu do mundo e à criação de uma república. Segundo a contagem dos votos, que prosseguia ontem, os maoístas devem conquistar o maior número das 601 cadeiras da Assembléia Constituinte - ou mesmo a maioria absoluta -, o que faz crescer a expectativa de afastamento da criticada elite política do Nepal. Essa perspectiva levanta alguns temores no âmbito internacional, pois os maoístas continuam na lista dos EUA de organizações terroristas e ameaçaram romper tratados com a Índia. Os EUA estão sob pressão para tirar os maoístas da sua lista de grupos terroristas. A Índia, por sua vez, prometeu rever sua política em relação aos maoístas, vistos com desconfiança por causa de sua suposta ligação com os rebeldes maoístas indianos. Com a grande votação nos candidatos da ex-guerrilha maoísta, os nepaleses quiseram dar uma primeira oportunidade aos novatos em política. Segundo o escritor Jagendra Sangrula, o povo nepalês despertou com o levante pró-democracia de abril de 2006, quando os maoístas e os partidos políticos forçaram o impopular rei Gyanendra a ceder seus poderes absolutos. "Os nepaleses exigiam novas idéias, novos rostos e alternativas e isso foi levado em conta", disse o escritor à France Presse. "Os maoístas trouxeram esses ares de mudança." "Preferi os maoístas a outros partidos que não fizeram nada pelos pobres como eu", afirmou o eleitor nepalês Ganey Darai. "Se, há um mês, você me dissesse que isso ia acontecer, eu teria desmaiado", disse Rhoderick Chalmers, especialista da organização International Crisis Group, ao jornal londrino The Times. "Mas está claro que um número enorme de eleitores está cansado dos velhos políticos. Será uma grande surpresa se os maoístas não se tornarem o maior partido na Assembléia Constituinte." Os ex-rebeldes maoístas - que em 2006 puseram fim a uma década de guerra que deixou 13 mil mortos - conquistaram 61 cadeiras nos 115 distritos onde a apuração foi concluída e continuam na frente em quase todas as demais regiões onde ainda há contagem de votos, informou ontem a comissão eleitoral. O tradicionalmente poderoso Partido do Congresso Nepalês, de tendência centrista, tinha 20 cadeiras, seguido pelo Partido Comunista do Nepal Marxista-Leninista Unido, com 18 assentos. Os resultados completos só serão conhecidos depois do dia 20, já que a eleição foi uma combinação complexa de sistemas de votação direta e proporcional. Prachanda, o líder maoísta,assegurou aos eleitores, no fim de semana, ter aderido à democracia desde a assinatura do acordo de paz, em 2006. "Insistimos para que ninguém duvide de nosso compromisso com uma disputa multipartidária", disse, após a confirmação de sua eleição em Katmandu no sábado. Ontem, duas pessoas morreram num tiroteio entre simpatizantes dos marxistas-leninistas unidos e do Partido Rastriya Prajatantra, num povoado do sul do Nepal.

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