Marchinhas de carnaval brasileiras já citavam Maomé

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Por Agencia Estado
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Embora a publicação de charges do profeta Maomé em jornais europeus tenha sido motivo de muito barulho entre as populações muçulmanas, no Brasil as referências ao líder da religião islâmica nunca foram veementemente censuradas. E não se pode dizer que não haveria motivos para investidas. Por aqui, o principal representante de Alá (Deus) na Terra já foi citado até em músicas de carnaval. Composta ainda na década de 1960, a marchinha Cabeleira do Zezé, escrita por João Roberto Kelly, tratava o tema com humor. Embora o autor negue, a música brinca com a questão do homossexualismo. O tema é um grande tabu nas sociedades muçulmanas. "Olha a cabeleira do Zezé / Será que ele é / Será que ele é / Será que ele é bossa nova / Será que ele é Maomé / Parece que é transviado / Mas isso eu não sei se ele é", diz a letra da música, que ainda hoje é reproduzida na maioria dos bailes de carnaval brasileiros. Nos últimos dias, a publicação de caricaturas satirizando a figura do profeta muçulmano em jornais europeus gerou reações violentas em boa parte do mundo islâmico. Inicialmente veiculada pelo diário dinamarquês Jyllands-Posten, as charges foram reproduzidas por mais de uma dezena de outros periódicos em protesto ao que as publicações classificaram como uma tentativa de calar a liberdade de expressão por parte dos religiosos. Os muçulmanos acreditam que Maomé foi o último profeta enviado à Terra por Alá. Seu objetivo seria guiar a humanidade em direção ao islamismo. Como para essa religião a idolatria é um pecado (ao contrário do cristianismo, que usa imagens de Jesus Cristo e de santos), representações são proibidas. Além da marchinha Cabeleira de Zezé, uma porção de outras músicas falam de Alá e Maomé. É o caso da também marchinha de carnaval Allah-lá-ô (gravada em 1940), que em sua versão original (1939), além de citar Alá, também usava o nome de Maomé. A letra da gravação de 1939 dizia: "Chegou a nossa caravana / À frente vem Maomé / Atravessamos o deserto / Sem pão e sem banana... / Sem água pra fazer café / Allah-lá-ô ô ô ô ô ô ô / Mas que calor ô ô ô ô ô ô." Mas não foram apenas os foliões que se apropriaram do nome do profeta. A famosa Eu nasci há 10 mil anos atás, de Raul Seixas e Paulo Coelho, também o menciona: "Eu nasci há dez mil anos atrás / E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais / Eu vi Cristo ser crucificado / O amor nascer e ser assassinado /Eu vi as bruxas pegando fogo / Prá pagarem seus pecados, eu vi / Eu vi Moisés cruzar o Mar Vermelho / Vi Maomé cair na terra de joelhos / Eu vi Pedro negar Cristo por três vezes / Diante do espelho, eu vi." Gravada por Adriana Calcanhotto em um disco voltado principalmente para o público infantil, Saiba, de Arnaldo Antunes, é mais um exemplo: "Saiba: todo mundo teve infância, Maomé já foi criança". Com ou sem polêmica, o fato é que, se no Brasil tudo termina em samba, com Maomé não poderia ser diferente.

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