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Matança em Haditha tende a tornar-se nova desonra militar dos EUA

O episódio pode consolidar a crescente oposição na opinião pública americana à presença dos EUA no Iraque

Por Agencia Estado
Atualização:

Algumas palavras são sinônimo de desonra militar nos Estados Unidos. Abu Ghraib, My Lai. E agora, talvez Haditha - a cidade iraquiana onde mais de 20 civis iraquianos desarmados teriam sido massacrados por fuzileiros navais americanos (marines). Ainda sob investigação do Pentágono, o episódio pode consolidar a crescente oposição na opinião pública americana à presença dos EUA no Iraque, assim como em 1968 a matança na pequena vila de My Lai ajudou a virar a opinião pública contra a Guerra no Vietnã. O presidente americano, George W. Bush, prometeu na quarta-feira que, se forem comprovadas as acusações, "aqueles que violaram a lei serão punidos". O caso é apenas mais uma dor-de-cabeça entre as muitas enfrentadas por Washington no Iraque. Quando parece que as coisas não podem ficar piores, elas ficam. "Quando algo como Haditha acontece, passa a impressão de que não se pode confiar nos americanos para garantir a segurança, que é a coisa mais importante para os iraquianos em seu dia-a-dia", diz Anthony Crodesman, um especialista em Iraque no Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos. "Tende a confirmar todos as piores sentimentos em relação aos Estados Unidos, e não simplesmente no Iraque, mas também no Afeganistão e na região como um todo", acrescentou. A revelação da suposta matança injustificada de civis na cidade iraquiana ocorre no momento em que cresce de importância a guerra na campanha para as eleições parlamentares de novembro nos EUA, com a administração Bush ainda tentando explicar o tratamento dispensado pelos militares americanos a prisioneiros em Abu Ghraib, no Iraque, e na Baía de Guantánamo, em Cuba. Haditha é um bastião insurgente situado 240 quilômetros a noroeste de Bagdá. O denunciado massacre de novembro provocou duras críticas por parte de ativistas antiguerra nos EUA e de autoridades do novo governo iraquiano. "Nossa tropas exageraram na reação devido à pressão em que se encontram, e elas mataram civis inocentes a sangue frio", avaliou o deputado democrata John Murtha, apesar de a investigação ainda não ter sido concluída. Investigadores militares têm evidências que apontam para assassinatos injustificados por parte dos marines, adiantou esta semana um alto oficial militar. Muitos analistas estão comparando o incidente de Haditha ao massacre de 16 de maio de 1968 de My Lai, apesar de a matança na vila do Vietnã ter sido numa escala muito maior. Lá, mais de 500 civis desarmados foram assassinados a sangue frio por uma unidade liderada pelo ex-tenente William Calley Junior. A vila era considerada um bastião da insurgência comunista vietcongue. Calley foi condenado por uma corte marcial em 1971 e sentenciado a prisão perpétua. Mas o então presidente Richard Nixon comutou sua sentença e ele acabou cumprindo três anos de prisão domiciliar. No massacre, noticiado pela primeira vez pela revista Time, os marines teriam invadido casas de Haditha e matado os civis, incluindo crianças, depois que um fuzileiro naval morreu por causa da explosão de uma bomba no momento da passagem de um comboio militar americano pela cidade. "Se as alegações forem válidas, então, naturalmente, haverá indiciamentos", prometeu o general Peter Pace, comandante do Estado-Maior Conjunto dos EUA - e um marine.

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