May propõe enfraquecer direitos humanos para combater terrorismo

Primeira-ministra britânica diz em discurso final de campanha que suspeitos de terrorismo podem ser deportados ou vigiados mesmo que não haja evidências suficientes para a abertura de um inquérito

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Por Redação
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LONDRES -Em queda nas pesquisas para a eleição geral do dia 8 e pressionada pelo terceiro ataque terrorista no Reino Unido em três meses, a primeira-ministra britânica, Theresa May, disse nesta terça-feira, 06, que está disposta a enfraquecer a legislação de direitos humanos no país para facilitar o combate ao terrorismo.

Investigadores do atentado de sábado na Ponte de Londres e no Mercado de Borough divulgaram a identidade do terceiro envolvido no ataque: Youssef Zaghba, de origens marroquina e italiana. Assim como o britânico de origem paquistanesa Khuram Butt, ele também era conhecido dos serviços de segurança britânicos.

A primeira-ministra britânica, Theresa May, acredita que 'a luta contra o terrorismo e o extremismo islâmico deve mudar' Foto: Kevin Coombs/ Reuters

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Segundo May, suspeitos de terrorismo poderão ser deportados ou vigiados mesmo que não haja evidências suficientes para a abertura de um inquérito. A promessa foi feita no último discurso de campanha de May, que na quinta-feira, tentará ampliar sua maioria no Parlamento nas eleições gerais.

Seu principal adversário, o trabalhista Jeremy Corbyn, tem crescido nas últimas pesquisas e, na segunda-feira, criticou a atuação de May no combate ao terrorismo quando ela era Ministra do Interior. Na ocasião, May demitiu 19 mil policiais da ativa no Reino Unido para cortar custos. Ela diz que as verbas de combate ao terrorismo não foram afetadas. 

A premiê chega às urnas após uma série de ataques em solo britânico. No mais recente deles, em Londres, que deixou sete mortos, dois dos três suspeitos eram monitorados pelo serviço secreto, mas as autoridades afirmaram que ainda não haviam surgido provas de que representassem risco real. 

A primeira-ministra defendeu que as autoridades restrinjam movimentos de militantes suspeitos mesmo sem provas para indiciamento. “Se as nossas leis de direitos humanos nos impedem de fazer isso, mudaremos as leis”, disse. 

May já foi criticada por relaxar as regras para mandados de busca e apreensão. No discurso, ela defendeu, ainda, que haja penas mais duras para condenados por terrorismo e se facilite as regras de deportação de militantes nascidos no exterior. A retórica agressiva de May contradiz a Convenção Europeia de Direitos Humanos, da qual o Reino Unido é signatário. 

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Ao longo da campanha, marcada por erros de estratégia, segundo analistas, a premiê tem adotado retórica mais dura, de olho no eleitorado que apoiou o Brexit, com promessas de combate à imigração ilegal e ao terrorismo. Mesmo antes do atentado de sábado, no entanto, Corbyn, com uma agenda focada na melhora dos serviços públicos, já vinha subindo. A média diária das pesquisas do jornal Guardian indicava ontem uma diferença de nove pontos porcentuais em favor de May contra o trabalhista. 

Investigações. Nascido em Fez, no Marrocos, em janeiro de 1995, Zaghba foi detido pelas autoridades italianas no Aeroporto de Bolonha em março de 2016 quando pretendia viajar à Turquia para depois seguir para a Síria, segundo o diário Corriere della Sera. A mãe de Zaghba mora no norte de Bolonha e ele havia rompido relações com o pai marroquino. Autoridades italianas alertaram o Reino Unido sobre os movimentos do suspeito após a detenção.

Após viverem um longo tempo no Marrocos, os pais de Zaghba se separaram e sua mãe voltou para a Itália. O jovem a visitou várias vezes e, em março de 2016, após ser preso no Aeroporto de Bolonha, ele foi investigado por suspeitas de atividades terroristas, mas acabou sendo solto, de acordo com o jornal.

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A Itália o colocou na lista de pessoas que podem apresentar “risco” e informou seus movimentos às autoridades britânicas e marroquinas. Assim como Zaghba, Butt também era conhecido das autoridades antiterroristas britânicas. O jovem, que nasceu no Paquistão, mas era cidadão britânico, era simpatizante do grupo al-Muhajiroun. Ele chegou a participar de um documentário sobre jihadismo exibido na TV britânica, no qual aparece numa cena ao lado de outros muçulmanos diante de uma bandeira islamista.

O grupo reivindicou a autoria dos ataques do fim de semana na capital britânica, e o atentado no show da cantora americana Ariana Grande, em Manchester, no dia 22 de maio, que deixou 22 do mortos. Um outro ataque ocorreu em 22 de março, também em Londres, quando um homem tentou atacar o Parlamento. / REUTERS

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