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McCain busca fato novo para reverter desvantagem

Só fator racial ou nova crise poderia alterar tendência das pesquisas

Por Patrícia Campos Mello
Atualização:

A nove dias da eleição presidencial americana, a probabilidade de o republicano John McCain reverter a vantagem de quase dois dígitos do democrata Barack Obama nas pesquisas é remota. Mas os democratas sabem que é perigoso subestimar o senador republicano: McCain é especialista em renascer das cinzas, como demonstrou com a vitória nas primárias, depois de sua campanha quase ter naufragado em julho do ano passado. Apostando nessa vocação do senador para Lázaro, os republicanos estão à espera de um milagre para salvar McCain. Esse milagre pode vir na forma de uma crise internacional ou de um surto de eleitores racistas saindo do armário no dia da eleição. Uma emergência internacional poderia salvar McCain. Um ataque terrorista ou uma "surpresa de outubro" da Al-Qaeda - como a fita de Osama bin Laden divulgada às vésperas da eleição de 2004, que prejudicou o democrata John Kerry - , por exemplo, empurraria eleitores para o republicano, mais experiente. Alguns analistas citam também a incidência do chamado "efeito Bradley". Em 1982, Tom Bradley, político negro candidato ao governo da Califórnia, perdeu de seu concorrente branco, apesar de estar vários pontos à frente em todas as pesquisas. Isso ocorreu porque muitas pessoas que declaravam intenção de votar em Bradley o faziam simplesmente para passar a imagem de politicamente corretas e não racistas. Na hora do voto, optaram pelo candidato branco. Estudos indicam que a incidência do efeito Bradley pode atingir até 6% das intenções de voto declaradas. Vários analistas, porém, põem em dúvida esse fator. "Eu não acredito em um efeito Bradley maciço, Obama não vai perder por causa disso", disse ao Estado G. Terry Madonna, diretor de Pesquisa do Franklin and Marshall College. Os estrategistas de Obama já contam com o fato de que alguns eleitores, particularmente homens brancos, não votarão em Obama porque ele é negro. Mas esses são eleitores que não votariam em um democrata de qualquer jeito. Além do mais, o número de eleitores negros que Obama levará às urnas compensa esses brancos influenciados pelo fator racial. Outro foco de incerteza é o comparecimento dos novos eleitores arrebanhados pelos democratas. Nos 13 Estados disputados que exigem que os eleitores se registrem por partido há quase 1,5 milhão a mais de democratas do que na eleição de 2004. Em comparação, houve uma redução de 61 mil no número de eleitores republicanos. Mas nada garante que esses novos eleitores vão aparecer para votar. Enquanto espera por algum desses milagres, McCain fecha seu foco em pontos considerados vulneráveis de Obama. "Ele precisa insistir em dois temas: mostrar que a política de Obama de aumentar impostos e gastos do governo será ruim para a economia, especialmente neste momento de fragilidade, e ressaltar a incerteza sobre a capacidade de Obama de lidar com questões internacionais difíceis, como um ataque terrorista", afirma o comentarista político conservador Michael Barone, autor do Almanaque de Política Americana. Barone acha que a chance dessa estratégia funcionar é pequena, mas não é nula. "Nós já vimos a opinião pública mudar radicalmente nas duas semanas finais em outras eleições presidenciais", diz Barone. "A vantagem de Obama neste momento é semelhante à liderança de Thomas Dewey nas pesquisas faltando duas semanas para as eleições de1948 - e Dewey acabou perdendo para Harry Truman." Os democratas já foram surpreendidos muitas vezes com viradas de última hora. "Não subestimem a capacidade dos democratas de arrancar a derrota das garras da vitória; não subestimem nossa capacidade de estragar tudo", disse Obama em um evento recente, tentando dissipar o clima de já ganhou. A última pesquisa deu um pouco de alento à campanha de McCain: segundo levantamento Reuters/C-SPAN/Zogby, divulgado ontem, Obama está na frente do republicano por nove pontos na corrida presidencial ( 51% contra 42% de McCain). Na sexta-feira, Obama liderava por 10 pontos. Na eleição de 2000, a mais apertada desde a vitória de John F. Kennedy em 1960, Bush aparecia ligeiramente à frente do candidato democrata Al Gore na maioria das pesquisas - mas perdeu no voto popular. Segundo Madonna, a matemática do colégio eleitoral não ajuda McCain. O republicano precisa vencer em algum dos Estados conquistados por Kerry em 2004, como a Pensilvânia, porque ele vai perder em alguns Estados levados por Bush naquela eleição. Além disso, McCain não pode perder em nenhum de quatro Estados-chave: Flórida, Missouri, Carolina do Norte e Virgínia. Bush venceu em todos estes Estados em 2004, mas agora Obama leva vantagem ou está empatado.

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