GENEBRA – A entidade Médicos Sem Fronteiras (MSF) apela pela abertura de investigações independentes para determinar a motivação do ataque por um jato americano em um de seus hospitais no norte do Afeganistão, que deixou pelo menos 22 pessoas mortas. A ONG rejeitou a explicação dada por militares americanos que, depois de mudarem a versão do incidente em quatro ocasiões desde o fim de semana, reconheceram que o bombardeio havia sido "um erro". Para a MSF, o caso poderia ser considerado como um “crime de guerra”, versão também mantida pela ONU.
No ataque ocorrido no hospital de Kunduz, 12 funcionários e 10 pacientes morreram depois que um avião americano bombardeou um dos prédios da instalação “4 ou 5 vezes” no espaço de 1 hora. Para a presidente do MSF, Joanne Liu, tal atitude “não pode ser tolerada”.
Joanne enviou cartas a mais de 70 governos, entre eles o Brasil, pedindo que uma investigação seja aberta pela Comissão Humanitária Internacional, um braço jurídico das Convenções de Genebra que estabelecem as regras de um conflito armado. A comissão, porém, jamais foi usada desde que entrou em vigor nos anos 90 e bastaria um governo acionar o mecanismo para ela poder atuar.
“Não podemos aceitar que o caso seja apenas colocado como um erro”, disse Joanne. “Esse não foi apenas um ataque a um hospital. Mas um ataque à Convenção de Genebra”. “Se deixarmos de protestar, estaremos no fundo dando um cheque em branco para qualquer outro país ou grupo armado”, disse.
Na terça-feira, o general americano John Campbell, comandante das Forças Americanas no Afeganistão, admitiu ao Senado que o hospital foi “erroneamente afetado” e que a decisão havia sido tomada pela “cadeia de comando” nos EUA.
Para Joanne, essa não é a resposta que se esperava. Segundo a entidade, a meta da investigação ainda não é estabelecer responsabilidades criminais. Mas sim estabelecer os fatos e as regras dos conflitos armados.
Para que a investigação possa ocorrer, porém, o governo dos EUA teria de dar seu sinal verde. Por enquanto, segundo a MSF, existem contatos entre a entidade, o governo americano, as autoridades em Cabul e a OTAN. Mas cada um está conduzindo sua própria investigação.
Na avaliação da entidade, não haveria como confundir o hospital com outro prédio. “Não se trata de um local escondido. Trata-se de um hospital com medicina de ponta, onde realizamos 6 mil cirurgias em 2014 e 20 mil consultas”, disse a presidente do grupo.