
25 de setembro de 2011 | 17h57
O rei Abdullah afirmou neste domingo que as mulheres sauditas podem ter as mesmas oportunidades na política que os homens. O anúncio tem potencial para ser o mais importante avanço nos direitos humanos das sauditas em décadas.
A oportunidade anunciada pelo rei parece revolucionária. Mas alguns analistas dizem que na prática elas vão ter esse direito restringido pela interpretação saudita das leis islâmicas.
Essas restrições incluem o sistema de guarda, no qual as mulheres precisam permissão do marido ou de um parente homem para participar da vida pública.
Ainda assim, o anúncio foi festejado e visto como histórico por muitos sauditas, tanto homens como mulheres.
"Ainda não recuperei o fôlego", disse Hatoon al-Fassi, professora universitária em Riad e ativista dos direitos das mulheres.
"Estamos muito empolgados. Acreditamos que essa é uma resposta às nossas demandas, é um primeiro passo na nossa longa luta por direitos."
Entusiasmo
Em seu discurso no domingo, o rei deixou claro que "as mulheres muçulmanas têm dado suas opiniões e conselhos desde a era do Profeta Maomé."
Ele disse ainda que as sauditas vão poder ser nomeadas para o Conselho Shura, órgão consultado em temas importantes no país, a partir do ano que vem.
No entanto, elas não poderão concorrer nas eleições municipais deste ano - somente na próxima, daqui a quatro anos.
Essa medida poderia reduzir o entusiasmo inicial, mas muitos garantem que isso não está ocorrendo.
"É preciso olhar pelo lado positivo. As sauditas estão esperando medidas como essas desde os anos 60", disse Osama ak-Kurdi, atual membro do Shura.
Para o sociólogo, Khalid al-Dakhil, a medida vai provocar a ira dos ultraconservadores.
No entanto, antecipando esse problema, o rei enquadrou a lei na sharia e na história islâmica.
"Ele está fazendo isso de acordo com o Islã real, que as vê como membros da sociedade", disse Mohammed Zulfa, ativista pela liberdade das mulheres e ex-membro do Shura.
O decreto do rei também é visto como conseqüência das revoluções que tomaram conta do mundo árabe neste ano.
No entanto, uma parte crescente da sociedade saudita vem exigindo reformas políticas e econômicas. Por isso, é provável que o rei tenha essa fatia da população em mente quando tomou a decisão.
Muitas sauditas acreditam que a medida vai abrir caminho para outras reformas similares. Entre elas, a que autorizaria as mulheres a dirigir.
Para a empresária e ativista Khulood al-Fahad, o anúncio é uma estão de tempo.
"Porque em breve as sauditas vão poder ter um assento no Sura e não poderão dirigir um carro. Isso não faz sentido. Acredito que essa proibição vai ser derrubada em no máximo um ano", disse. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
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