''Medidas de Obama visam mais ao público interno''

Pesquisadora do Council on Foreign Relations diz que Lula deveria ensinar EUA a considerarem mais os interesses cubanos

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Por João Paulo Charleaux
Atualização:

A pesquisadora Julia Sweig, especialista nas relações EUA-Cuba, enviou no início do mês um extenso documento ao presidente americano, Barack Obama, com considerações políticas sobre o fim do embargo a Cuba. Nesta entrevista ao Estado ela fala sobre o anúncio de ontem e o papel do Brasil na aproximação entre Washington e Havana. Qual a importância do anúncio feito ontem por Obama? É uma grande notícia. Entretanto, ela dá a alguns cidadãos um direito que é negado a outros e acaba parecendo mais uma medida de política interna do que de política exterior. Já a parte ligada às telecomunicações tem o potencial de abrir as portas para as companhias americanas venderem serviços na ilha. O fim do embargo ainda é vital para Cuba? É evidente que Cuba ganharia com a abertura comercial e diplomática dos EUA. Apesar disso, é preciso dizer que, desde os anos 90, muitos outros países já vêm mantendo negócios com a ilha. Os EUA são importantes hoje, mas já não são os únicos atores em cena. A ameaça americana sempre rendeu argumentos para que o regime cubano se mantivesse fechado. Com o fim do embargo, a sombra desse inimigo desaparecerá? A utilização de um inimigo externo para manter a coesão interna e justificar a repressão começou a ter mais custos do que benefícios. Além disso, os estrategistas cubanos sabem que, mesmo que os EUA derrubem o embargo, sempre haverá material abundante para demonstrar as más intenções de Washington, seja de maneira real ou exagerada. Qual deveria ser o papel do Brasil? O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, tem a capacidade de falar no tom adequado para muitos dos líderes regionais. É importante que ele encoraje Obama a calibrar seu discurso também. Normalmente, os líderes americanos definem seus discursos sobre Cuba pensando muito mais na audiência doméstica americana do que no público e no governo cubano.

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