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Medo é maior doença dos afegãos, diz OMS

Por Agencia Estado
Atualização:

Medo. Essa é, provavelmente, a principal doença que afeta a população afegã atualmente. A conclusão é da Organização Mundial de Saúde (OMS), que, nesta terça-feira, publicou um estudo no qual aponta que os conflitos no Afeganistão têm gerado, desde os anos 80, uma das crises psico-sociais mais graves do planeta. A OMS acredita que a repressão, mortes diárias, o medo de viver em áreas com minas terrestres e os ataques recentes liderados pelos Estados Unidos estão gerando uma "situação catastrófica" para o futuro da sociedade afegã. Leena Kaartinen, médica da organização não-governamental Healthnet International, afirma que grande parte da população que busca ajuda médica em Hazarajat, na região central do Afeganistão, não apresenta qualquer problema físico. "Eles apenas têm medo, e o estresse toma conta das famílias", afirma a médica, no relatório da OMS. Os problemas psicológicos que tomam conta da população afegã não são recentes. A Unicef - agência da ONU para a infância - lembra que, em 1997, um estudo indicou que 40% das crianças entre 8 e 18 anos, em Cabul, haviam perdido seus país, e 90% acreditavam que morreriam em um conflito armado. A OMS ainda alerta que 30% dos refugiados afegãos no Paquistão já apresentavam problemas psicológicos em 1997 e que 97% das mulheres nos campos de refugiados sofriam de depressão. Estudos da OMS apontam que, de forma geral, 10% de uma população que sofre as conseqüências de uma guerra terá problemas mentais em algum momento de suas vidas. No caso da Afeganistão, porém, a OMS acredita que cerca de 5 milhões de pessoas irão sofrer de depressão, ansiedade e insônia no futuro. Nos últimos anos, a Cruz Vermelha deixou de tratar apenas de doenças físicas e tem desenvolvido um serviço de apoio psicológico às populações que sofrem do "medo da guerra". O problema é que, no caso do Afeganistão, existem apenas apenas 18 psiquiatras e 20 psicólogos no país, para atender uma população de 25 milhões de pessoas. "Na maioria das vezes, o que eu faço é apenas escutar o que eles dizem, e isso já é o suficiente para eles se sentirem mais aliviados", afirma a doutora Leena Kaartinen. Mas na OMS, assim como nas demais agências de ajuda humanitária da ONU, todos sabem que não serão iniciativas como o treinamento de novos médicos ou verbas suplementares para os hospitais que irão solucionar o problema do Afeganistão, mas o fim dos conflitos que, por um motivo ou outro, já duram 23 anos e geraram mais de 3 milhões de refugiados. Leia o especial

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