Membros do CS criticam governo Bush

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Por Agencia Estado
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Os Estados Unidos foram criticados pelos demais membros do Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU), numa reunião nesta quinta-feira, por quererem mudar os cronogramas e prazos finais para os inspetores de armas apresentarem relatórios de seu trabalho no Iraque. As divergências surgiram porque o governo norte-americano teme que seus planos de atacar o Iraque possam ser prejudicados se o CS mantiver a data de 27 de março para o chefe dos inspetores, Hans Blix, apresentar uma lista de "tarefas pendendes de desarmamento" para o Iraque cumprir. Ao mesmo tempo, o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Mohamed el-Baradei, antecipou nesta quinta-feira que pretende pedir mais tempo para completar sua tarefa de verificação do suposto arsenal nuclear. O impasse deriva do fato de os peritos operarem sob duas resoluções, as de número 1.284, de 1999, e 1.441, de novembro de 2002. Pelas normas da 1.284 - a qual estabelece as etapas para o levantamento das sanções aplicadas ao Iraque após a Guerra do Golfo -, o CS tem de ser informado trimestralmente sobre o trabalho dos inspetores, e, pelo cronograma, Blix teria de apresentar a lista das tarefas pendentes em 27 de março. Enquanto ele procura minimizar a importância do próximo relatório, os EUA voltaram nesta quinta-feira a defini-lo como "data importante". "Depois disso, os eventos vão determinar cronogramas", declarou o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer. Mas os EUA consideram que a 1.441, por ser mais recente, tem precedência. Essa resolução só cita o prazo de 60 dias para a entrega de um relato completo e dá ao governo iraquiano mais uma chance para se desarmar ou "enfrentar sérias conseqüências". Com base em suas determinações, Blix apresentará no dia 27 - dois meses após a retomada das inspeções - um relatório com as conclusões das vistorias. Mas tanto Blix como El-Baradei consideram que as duas resoluções são vinculantes. Nesta quinta-feira, Blix enfatizou em Bruxelas que em 27 de janeiro o trabalho não estará terminado. Na reunião desta quinta, o CS não chegou a nenhuma conclusão sobre as diferentes interpretações, mas a maioria dos membros considera que a 1.284 não pode ser mudada nem anulada. "Nós, de fato, temos algumas dúvidas sobre se 27 de março é a data certa para esboçar as tarefas cruciais de desarmamento", disse aos jornalistas o embaixador norte-americano na ONU, John Negroponte. Na reunião, ele insistiu em que os EUA não querem que o Iraque fique com a impressão de que as coisas vão ficar por isso mesmo. No entanto, por trás da controvérsia estão os planos do governo norte-americano de tomar uma decisão sobre o ataque ao Iraque depois que Blix fizer seu relato ao CS no dia 27. A expectativa em Washington é que o presidente faça uma forte defesa de "ação" em seu discurso sobre o Estado da União, no dia 28. Um dia depois, o CS discutirá o relatório de Blix, e, no dia 31, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, visitará Bush na Casa Branca. O impasse sobre as resoluções do CS ocorreu em meio a fortes pressões dos EUA sobre os inspetores e à intensificação do deslocamento de armas e tropas por parte de norte-americanos e britânicos, para a região do Golfo Pérsico, em preparação para a guerra. Em Moscou, o chanceler russo, Igor Ivanov, acusou nesta quinta-feira "certos círculos de Washington" de pressionarem indevidamente os inspetores da ONU e questionarem suas atividades.

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