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Menem depõe sobre armas na quinta

Por Agencia Estado
Atualização:

Pela primeira vez na História argentina, um ex?presidente (durante o período democrático) será visto subindo as escadas dos tribunais em Buenos Aires para prestar depoimento. O ex?presidente em questão é Carlos Menem, que terá que esclarecer nesta quinta-feira o juiz Jorge Urso sobre sua eventual participação na venda ilegal de armas à Croácia e ao Equador, entre 1991 e 1995. Esta também poderá ser a primeira vez que um ex?presidente fica detido pela Justiça, já que existe a possibilidade jurídica de que ?El Turco? - como Menem é conhecido popularmente - possa ir para trás das grades logo após seu depoimento. O depoimento de Menem estava programado para o dia 13 de julho. Mas o pedido do ex-presidente para realizar uma repentina viagem à Síria acabou mudando os planos do juiz. Menem pediu licença para deixar o país em lua-de-mel com sua esposa, a ex?miss Universo Cecilia Bolocco, para apresentá-la a seus parentes na Síria, com os quais mantém escasso contato. Desconfiado do pedido, o juiz Urso - para evitar um remake da fuga do ex-presidente mexicano Salinas de Gortari - decidiu convocar Menem antes da viagem. ?É uma comparação malévola com o caso mexicano?, reclamaram nesta terça-feira os advogados de Menem, que também lamentam que a antecipação do depoimento não lhes dará tempo suficiente de preparar seu cliente. A manobra do juiz colocou em polvorosa o círculo cada vez menor de seguidores de Menem, conhecidos como ?menemistas?, que decidiram que, na quinta-feira, juntarão uma multidão que irá apoiar ?El Jefe?, como Menem é denominado por seus seguidores. Os manifestantes pretendem rodear o edifício dos tribunais. No entanto, analistas políticos duvidam do élan que o velho caudilho ainda possa ter para que esta mobilização tenha sucesso: Menem ainda é presidente do Partido Justicialista (mais conhecido como ?Peronista), mas só formalmente. Ele controla apenas 20 deputados de um total de 99 peronistas. ?Sou inocente?, disse Menem, rodeado por um enxame de jornalistas, enquanto saía do quartel-general montado às pressas para esta crise no escritório de seu eterno braço-direito e ex-secretário-geral da presidência, Alberto Kohan. Menem preferiu não comentar sua situação: ?falem com meus advogados?, afirmou. Seu irmão, o senador Eduardo Menem, não ficou quieto: ?Isto é uma perseguição política. O juiz está predisposto contra o ex?presidente?. Segundo o senador, ?não existem provas? contra seu irmão. Os menemistas afirmam que a convocação para o depoimento é uma manobra para liquidar as chances de Menem candidatar-se às eleições presidenciais de 2003. Nesta semana, a situação complicou-se para Menem: o ex?ministro da Defesa Oscar Camilión apresentou documentos, envolvendo o ex?presidente ainda mais no escândalo das armas, e outro ex?ministro da Defesa, Ermán González - que está detido há semanas ?, afirmou que os decretos assinados pelos ministros ?referendam a decisão do presidente?. Outro fator que colocou mais sombras negras no horizonte de Menem foi a declaração do Departamento de Estado dos EUA, afirmando que o governo americano não estimulou as vendas argentinas para a Croácia. Um dos argumentos do grupo de Menem é admitir que a venda das armas foi ilegal, mas que havia sido ?pedida? implicitamente pelos EUA, que apoiavam a Croácia, durante a guerra da ex-Iugoslávia. Eduardo Duhalde, seu ex-vice-presidente, não esquece a falta de apoio de Menem para sucedê-lo e atribui a ?El Turco? sua derrota nas eleições presidenciais de 1999. Por esse motivo, alegrou-se quando soube do depoimento adiantado: ?Menem terá que ser julgado como um cidadão qualquer?. Segundo ele, uma eventual prisão de Menem ?não vai alterar a vida institucional do país?. O presidente Fernando De la Rúa pensa da mesma forma e negou que uma hipotética detenção do ex?presidente possa causar turbulências políticas. Nesta quarta-feira, o tenente-general Martín Balza, ex?chefe do Exército, terá de prestar depoimento ao juiz Urso sobre seu eventual envolvimento no tráfico de armas. A situação de Balza também é complicada: o tenente-coronel José Cattenati sustenta que ouviu o general equatoriano Paco Moncayo reclamar que Balza havia lhe vendido armas ?velhas? e munição ?imprestável?.

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