KATMANDU - Uma menina de três anos foi eleita nesta quinta-feira, 28, a nova "Kumari", a tradicional menina deusa viva que é venerada por hindus e budistas no país do Himalaia há 500 anos. Ela suecede a antecessora que se "aposentou" aos 12 anos por alcançar a idade de sua primeira menstruação.
A menina Trisnha Shakya foi nos braços do seu pai ao Palácio Kumari Ghar de Katmandu, capital do Nepal, onde ficará reclusa pelos próximos nove anos com esporádicas saídas ao exterior em festividades religiosas.
"Escolhemos Trishna entre muitas outras meninas porque seu mapa astral era mais adequado", explicou o sacerdote Uddhav Karmacharya, um dos membros do comitê que selecionou a nova menina deusa.
As meninas Kumari (palavra que significa menina solteira) têm que pertencer à comunidade indígena de Newar e à família Shakya e, no momento de ser escolhidas, ter entre dois e quatro anos. Além disso, devem cumprir uma série de requisitos, como ter um determinado mapa astral ou uma voz clara.
Segundo a tradição, são a reencarnação da deusa hindu Kali. O mandato se estende até que cheguem aos 12 anos, momento em que supostamente menstruam pela primeira vez e a partir do qual devem abandonar o templo.
Frequentemente vistas como uma atração turística, as meninas deusas recebem educação no complexo em que se encontram reclusas, mas podem receber a visita diária de seus pais. A tradição das meninas deusas está muito ligada à já extinta monarquia no país.
Para as famílias das meninas deusas, a escolha costuma ser um motivo de orgulho, apesar do isolamento das menores nos anos posteriores. "É um momento de orgulho para nós. Estou extremamente feliz que a minha filha tenha sido eleita como a deusa viva", disse à imprensa o pai da nova Kumari, Bijay Ratna Shakya.
Centenas de pessoas acompanharam a nova Kumari em uma procissão. Foram tocadas músicas tradicionais desde sua casa até o templo de Taleju, onde foi realizada a cerimônia de boas-vindas. Ela se encontrou com a sua antecessora e depois, a antiga Kumari se despediu com uma homenagem do Exército e foi levada escoltada por centenas de pessoas ao lar que abandonou há quase uma década. / EFE