
02 de agosto de 2019 | 18h05
ASSUNÇÃO - A imprensa do Paraguai divulgou nesta sexta-feira, 2, novas mensagens de celular atribuídas a Pedro Ferreira, ex-presidente da estatal elétrica Ande, e o advogado José Rodríguez González, assessor jurídico da vice-presidência do Paraguai.
Elas mostram o envio de uma carta de intenções ao empresário Alexandre Giordano, suplente do senador Major Olímpio (PSL-SP) para comprar energia da Ande despachada depois de que o item que permitiria a venda de energia excedente de Itaipu a empresas brasileiras foi retirado do acordo.
Giordano reconhece ter participado de uma reunião no Paraguai com a Ande ao lado de um representante da Léros, mas para tratar do interesse de um leilão de energia elétrica aberto pela estatal paraguaia.
A carta de intenções enviada ao suplente de senador, segundo as mensagens obtidas pela imprensa paraguaia, data de 12 de julho, um mês e meio depois da assinatura do acordo entre Brasil e Paraguai que impediu que a Ande vendesse energia excedente de Itaipu a empresas brasileiras.
O pacote, enviado pelo correio, tem como remetente uma pessoa identificada como Nicolás Martins Koc Pinto. Ela vem endereçada da Rambla Gandhi 221, em Assunção – um endereço que não existe na capital paraguaia, mas sim em Montevidéu, no Uruguai.
EXCLUSIVO. Saltan nuevos chats de 'Joselo' Rodríguez. Además de @HVelazquezPy ahora también salpica nada que menos que al propio presidente brasileño @jairbolsonaro
Mirá todos los detalles en la nota: https://t.co/e4QwlSrKyR#CrisisItaipú #NPY #NosConecta pic.twitter.com/ecZxWxtT8t — NPY Oficial (@npyoficial) August 2, 2019
Ao Estado, Giordano disse que não se recorda da carta enviada por Koc ao endereço onde funciona seu escritório, na zona norte de São Paulo, e voltou a negar qualquer relação da sua ida ao Paraguai com o retirada da cláusula do acordo bilateral. "Isso deve ser uma briga política deles. Não tenho nenhuma relação com esse acordo. A Léros me chamou e eu fui lá escutar a proposta da Ande sobre vende de energia. Existe uma licitação aberta, que é pública. Eu não comprei nada. A própria Léros não assinou nada", afirmou.
Giordano também negou ter se apresentado como senador e usado o nome do presidente Jair Bolsonaro na reunião com diretores da Ande. Ele é dono de empresas de mineração, terraplenagem e instalação de materiais metálicos usados em torres de energia e se diz fornecedor da Léros, que é geradora e comercializadora de energia no Brasil. A reportagem tentou contato com Kléber Ferreira, sócio da Léros, mas ele não atendeu as ligações.
Nas mensagens trocadas entre o presidente da Ande e o assessor jurídico, González volta a apresentar Giordano, como um “representante da família do “alto governo do Brasil”. As mensagens também revelam como o advogado pressionou a Ande para abandonar essa cláusula em meio a uma negociação com a Leros.
De acordo com o canal de TV paraguaio NPY, no começo de maio, González abordou Ferreira usando o nome do vice-presidente Hugo Velásquez e da família de Bolsonaro para conseguir uma reunião entre a Ande e um enviado da Leros.
Em 17 de maio, uma semana antes da assinatura da ata sobre Itaipu, González revela ao presidente da Ande o interesse da Leros em contratar energia paraguaia. Àquela altura, o acordo vigente ainda proibia a venda de energia excedente de Itaipu para pessoas jurídicas sem autorização da Eletrobrás.
González então menciona que, na comitiva brasileira, estaria um representante da família Bolsonaro, em referência a Giordano. Ao Estado, no entanto, o empresário brasileiro disse ser apenas um parceiro da Leros e nunca ter tido relação com Jair Bolsonaro, nem com a família do presidente, apesar de ser filiado ao PSL.
No momento em que a reunião aconteceu, o novo acordo – que à época ainda continha um cláusula que permitiria ao Paraguai vender a energia excedente para empresas no Brasil – estava na iminência de ser assinado.
Por isso, segundo o presidente interino da Ande, Fabián Cáceres, estava em estudo um projeto piloto para a venda, em pequenas quantidades, dessa energia excedente para empresas. Foi esse projeto, dizem ele e Giordano, que teria sido apresentado a Leros.
González, no entanto, pediu a diretores da Andes a exclusão dessa mesma cláusula porque ela poderia prejudicar a negociação com a Leros. Na mensagem, ele insinua o interesse do governo brasileiro – algo que não foi provado até agora.
“Em conversações com o mais alto mando do país vizinho, se concluiu que (o item 6) não era o mais favorável”, diz González. “Temos que manejar com prudência a informação.”
O que ainda não está claro é se o interesse da Leros no projeto piloto era legítimo, qual o motivo de González dizer que a liberação da venda para empresas brasileiras prejudicaria a negociação. Nas mensagens, o ex-diretor da Ande ressalta que não pode haver exclusividade na venda de energia à Leros.
O acordo foi assinado, já sem o item seis, em 24 de maio, como queria González. Em 12 julho, a carta de intenções à Leros foi enviada. Duas semana depois, no final de julho, o acordo que provocaria a crise foi divulgado pela imprensa. / Com Fabio Leite e Luiz Raatz
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