Mentor de assassinato do presidente do Haiti pode estar foragido, diz líder interino

Primeiro-ministro Ariel Henry diz acreditar que nenhuma das mais de 40 pessoas detidas até o momento teria capacidade para organizar o complexo complô

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Por Anatoly Kurmanaev
Atualização:

PORTO PRÍNCIPE - O cérebro por trás do assassinato do presidente Jovenel Moise do Haiti provavelmente ainda está foragido, disse o líder interino do país, Ariel Henry. Ele disse ainda estar perplexo com o crime e duvida que os conspiradores acusados de tramar o assassinato tivessem a capacidade de realizá-lo por conta própria.

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“Acho que havia muitas pessoas envolvidas; havia pessoas com acesso a muito dinheiro”, disse o novo primeiro-ministro em uma entrevista na terça-feira em sua residência na capital, Porto Príncipe. “As pessoas que eles acusaram até agora, não vejo que tenham a capacidade, a rede, para fazer isso.”

Mais de 40 pessoas foram detidas depois que Moise foi baleado 12 vezes e sua mulher ficou gravemente ferida em 7 de julho por um grupo de agressores que invadiram seu quarto. A polícia e o Ministério Público continuam a emitir mandados para novos suspeitos quase que diariamente. Alguns dos detidos foram acusados, mas nenhum foi levado a um tribunal.

Poucos no Haiti acreditam que as autoridades saibam quem são as pessoas que organizaram e financiaram o complexo complô. Parece ter sido planejado há meses na Flórida e no Haiti e envolveu a viagem de duas dezenas de ex-comandos colombianos para o país.

Exército e polícia protegem local onde suspeitos de assassinar o presidente estão presos em Porto Príncipe Foto: REUTERS/Ricardo Arduengo

Embora o presidente tivesse muitos inimigos, Henry, que foi nomeado por Moise pouco antes de sua morte, disse que permaneceu perplexo com o desfecho do crime. “Talvez eu também esteja em risco por causa das pessoas que o mataram”, disse Henry. “Eles poderiam fazer isso de novo? Não sei."

A oposição havia dito que o mandato de cinco anos de Moise deveria ter terminado em 7 de fevereiro, cinco anos depois que seu antecessor, Michel Martelly, deixou o cargo. Mas Moise se agarrou ao poder, governando por decreto e alegando que um governo interino exerceu o primeiro ano de seu mandato. Os manifestantes foram às ruas do Haiti exigindo sua remoção.

Claude Joseph, então primeiro-ministro, assumiu o controle do governo do Haiti imediatamente após o assassinato, mas a pressão de potências estrangeiras levou a um acordo para permitir que Henry, de 71 anos, assumisse o cargo em 21 de julho.

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Na segunda-feira, o promotor-geral de Porto Príncipe começou a emitir as primeiras acusações na investigação do assassinato. Os suspeitos presos - que incluem os chefes de segurança de Moise, ex-comandos colombianos e empresários haitianos - foram transferidos para a prisão em preparação para o julgamento. Mas, apesar de alguns avanços, a investigação esteve atolada desde o início em irregularidades e tentativas de subversão.

Pelo menos três funcionários do Judiciário que compilaram evidências e conduziram interrogatórios iniciais com os principais suspeitos estão agora escondidos depois de receber várias ameaças de morte.

Henry disse que seu principal objetivo agora é realizar eleições livres e justas para estabilizar o país. Ele disse que está em negociações com partidos políticos e líderes civis para nomear uma nova mesa eleitoral e redigir uma nova Constituição que será apresentada aos eleitores para aprovação.

Ele prometeu melhorar a terrível crise de segurança do Haiti antes da votação; partes da capital permanecem sob controle das gangues. Ele também descartou o pedido de assistência de tropas em preparação para a votação de aliados, incluindo dos Estados Unidos, dizendo que a tarefa seria desempenhada pela polícia nacional.

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Henry disse que não se candidataria nas eleições. Apesar dos desafios de guiar o país em uma crise política e de segurança, disse, continua exercendo sua principal profissão, de neurocirurgião.

“Minha missão é criar um ambiente para eleições com grande participação”, disse ele, acrescentando que espera que a votação ajude a quebrar a instabilidade política crônica do Haiti. “Se pudermos ter uma, duas transferências democráticas de poder, o Haiti ficará bem.”

Mas, fazendo uma ponderação, o primeiro-ministro interino disse que os desafios políticos e de segurança do Haiti tornam improvável a data prevista para as eleições, 26 de setembro. Ele se recusou a fornecer um novo prazo.

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Sua ambivalência em manter a data das eleições foi criticada por alguns políticos haitianos, que dizem que o país precisa de um roteiro para um novo governo para evitar a agitação em massa após o assassinato de Moise.

“Se eles não realizarem as eleições antes de 2022, este país explodirá”, disse Mathias Pierre, o ex-ministro das eleições de Moise, que organizou a votação deste ano até a morte do presidente. "É um vulcão queimando por dentro."

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