Os mercados, os banqueiros, os economistas, estão contentes. Há poucas semanas, morriam de medo. Tinham pesadelos apocalípticos: o fim da globalização, a União Europeia nas cordas, a volta das barreiras comerciais, países falindo e, em frente a bancos devastados, filas de clientes tentando sacar o que sobrou de suas economias.
O espantalho era Marine Le Pen. Se ela saísse na frente no primeiro turno, seria o horror. Como presidente, faria o divórcio entre a França e a UE, que agonizaria.
Havia uma perspectiva ainda mais sombria - a de que, no primeiro turno, os dois primeiros colocados fossem Marine Le Pen, isolacionista apaixonada, e seu inimigo Jean-Luc Mélenchon, também isolacionista, mas de extrema esquerda.
Nesse cenário, no segundo turno, dia 7, o presidente eleito - ou Marine, de direita, ou Mélenchon, de esquerda - massacraria a Europa, a livre empresa, a globalização. Como, em tal hipótese, poderiam os banqueiros escolher seu favorito se os dois candidatos seriam igualmente detestáveis?
Felizmente, esse primeiro turno foi tranquilizador. Emmanuel Macron, europeísta e liberal, chegou na frente. Le Pen, claro, ficou em segundo, o que a habilita a disputar o segundo turno, mas será difícil tirar a diferença nos dias que restam. Eis por que as bolsas comemoraram. A de Paris subiu 4%, a de Frankfurt, 3,37%, a de Milão, 4%. Pra frente, Europa!
A mesma euforia foi vista entre os diplomatas, principalmente na Alemanha, que manda na economia da Europa. A grande mão alemã apertou a pequena mão francesa. Há semanas Angela Merkel sorri para Macron. Domingo, seu porta-voz desejou boa sorte ao candidato. E o Ministério do Exterior alemão declarou: “Macron é o que desejamos: um belo futuro para a Europa”.
Não se trata apenas do futuro da UE. Vários dos candidatos na França questionavam as habituais escolhas de Paris. Le Pen, como todos os populistas, adora Vladimir Putin. Jean-Luc Mélenchon, de extrema esquerda, o respeita. E François Fillon, o infeliz candidato da direita tradicional, acha também que devemos conversar com Putin, pois, queiramos ou não, a Rússia tem a chave dos conflitos do Oriente Médio e de outros. Já Macron, o favorito para o segundo turno, que diz não ser nem de direita nem de esquerda, não questiona os eixos da diplomacia francesa.
Assim, o primeiro turno passou e Macron terminou adorado por quase toda parte. Mas esse quadro tão luminoso tem algumas sombras. A primeira é que, nesse primeiro turno, apenas 50% dos franceses deram seu voto a candidatos pró-europeus. A França, pois, se vê perto de um grande divórcio ideológico de toda sua história política desde o fim da guerra. Se, por enquanto, a herança de Giscard d’Estaing, de Chirac, de Sarkozy e de Hollande está salva, no entanto ficou mais fragilizada, mais vulnerável que nunca.
Outra sombra: admitindo-se que a França continue ligada à UE, terá de trabalhar por uma reforma dessa Europa confusa, paralisada, tomada pelo colesterol ruim. Do mesmo modo, é urgente que a zona do euro seja submetida a um tratamento de rejuvenescimento. Em outras palavras, certamente temos o direito de permanecer na Europa, mas com a condição de reformá-la do assoalho ao teto.
Última sombra: Macron sem dúvida será beneficiado no segundo turno pela migração de eleitores que votaram em outro candidato. Mas não podemos esquecer que no campo dessa direita derrotada o rancor é uma verdadeira paixão. Alguns adeptos de Fillon já anunciaram que não votarão nunca em alguém como Macron. Le Pen vai brigar. E é uma guerreira poderosa e infatigável. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ
É CORRESPONDENTE EM PARIS