Mercados se acalmam

A votação foi tranquilizadora pelo fato de o europeísta Macron ter chegado na frente

PUBLICIDADE

Por Gilles Lapouge
Atualização:

Os mercados, os banqueiros, os economistas, estão contentes. Há poucas semanas, morriam de medo. Tinham pesadelos apocalípticos: o fim da globalização, a União Europeia nas cordas, a volta das barreiras comerciais, países falindo e, em frente a bancos devastados, filas de clientes tentando sacar o que sobrou de suas economias.

O espantalho era Marine Le Pen. Se ela saísse na frente no primeiro turno, seria o horror. Como presidente, faria o divórcio entre a França e a UE, que agonizaria.

A campanha de Emmanuel Macron citou como evidência da invasão os resultados de um estudo da empresa de segurança Trend Micro, que disse ter encontrado provas de que um grupo espião teria atacado a campanha do candidato Foto: REUTERS/Eric Feferberg

PUBLICIDADE

Havia uma perspectiva ainda mais sombria - a de que, no primeiro turno, os dois primeiros colocados fossem Marine Le Pen, isolacionista apaixonada, e seu inimigo Jean-Luc Mélenchon, também isolacionista, mas de extrema esquerda. 

Nesse cenário, no segundo turno, dia 7, o presidente eleito - ou Marine, de direita, ou Mélenchon, de esquerda - massacraria a Europa, a livre empresa, a globalização. Como, em tal hipótese, poderiam os banqueiros escolher seu favorito se os dois candidatos seriam igualmente detestáveis?

Felizmente, esse primeiro turno foi tranquilizador. Emmanuel Macron, europeísta e liberal, chegou na frente. Le Pen, claro, ficou em segundo, o que a habilita a disputar o segundo turno, mas será difícil tirar a diferença nos dias que restam. Eis por que as bolsas comemoraram. A de Paris subiu 4%, a de Frankfurt, 3,37%, a de Milão, 4%. Pra frente, Europa!

A mesma euforia foi vista entre os diplomatas, principalmente na Alemanha, que manda na economia da Europa. A grande mão alemã apertou a pequena mão francesa. Há semanas Angela Merkel sorri para Macron. Domingo, seu porta-voz desejou boa sorte ao candidato. E o Ministério do Exterior alemão declarou: “Macron é o que desejamos: um belo futuro para a Europa”.

Não se trata apenas do futuro da UE. Vários dos candidatos na França questionavam as habituais escolhas de Paris. Le Pen, como todos os populistas, adora Vladimir Putin. Jean-Luc Mélenchon, de extrema esquerda, o respeita. E François Fillon, o infeliz candidato da direita tradicional, acha também que devemos conversar com Putin, pois, queiramos ou não, a Rússia tem a chave dos conflitos do Oriente Médio e de outros. Já Macron, o favorito para o segundo turno, que diz não ser nem de direita nem de esquerda, não questiona os eixos da diplomacia francesa.

Publicidade

Assim, o primeiro turno passou e Macron terminou adorado por quase toda parte. Mas esse quadro tão luminoso tem algumas sombras. A primeira é que, nesse primeiro turno, apenas 50% dos franceses deram seu voto a candidatos pró-europeus. A França, pois, se vê perto de um grande divórcio ideológico de toda sua história política desde o fim da guerra. Se, por enquanto, a herança de Giscard d’Estaing, de Chirac, de Sarkozy e de Hollande está salva, no entanto ficou mais fragilizada, mais vulnerável que nunca.

Outra sombra: admitindo-se que a França continue ligada à UE, terá de trabalhar por uma reforma dessa Europa confusa, paralisada, tomada pelo colesterol ruim. Do mesmo modo, é urgente que a zona do euro seja submetida a um tratamento de rejuvenescimento. Em outras palavras, certamente temos o direito de permanecer na Europa, mas com a condição de reformá-la do assoalho ao teto.

Última sombra: Macron sem dúvida será beneficiado no segundo turno pela migração de eleitores que votaram em outro candidato. Mas não podemos esquecer que no campo dessa direita derrotada o rancor é uma verdadeira paixão. Alguns adeptos de Fillon já anunciaram que não votarão nunca em alguém como Macron. Le Pen vai brigar. E é uma guerreira poderosa e infatigável. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ 

É CORRESPONDENTE EM PARIS