Mercosul suspende Venezuela por tempo indeterminado

Caracas, que não cumpriu regras do bloco como prometeu, deve receber comunicado nesta sexta-feira

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Por Lu Aiko Otta e BRASÍLIA
Atualização:

O Mercosul suspendeu a Venezuela por tempo indeterminado por descumprir exigências do bloco para concluir seu processo de adesão. Caracas será notificada nesta sexta-feira que seus direitos como sócia do Mercosul estão suspensos, em razão do descumprimento do compromisso de internalizar as normas já adotadas pelo Mercosul. O ultimato à Venezuela, dado em setembro pelos outros integrantes – Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai – venceu nesta quinta-feira. 

 O governo venezuelano chegou a informar ter concluído as metas alfandegárias do acordo. Ao longo dos últimos meses, Brasil, Argentina e Paraguai vinham fazendo críticas à política de direitos humanos na Venezuela, o que impediu Caracas de assumir a presidência do bloco. O prazo dado aos venezuelanos para se adaptar foi imposto após o Uruguai, que até então vinha defendendo o governo de Nicolás Maduro, se abster. 

Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro Foto: Palácio Miraflores/Reuters

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"Constatada a persistência do descumprimento assumidos no referido protocolo de adesão se notifica, mediante a presente comunicação àRepúblicaBolivariana da Venezuela a cessação de exercício dos direitosinerentes à suacondição de Estado parte do Mercosul a partir desta data até que os Estados parte signatários doTratado de Assunção acordem com a República Bolivariana da Venezuela as condições para restabelecer o exercício de seus direitos como Estado parte",diz o comunicado do bloco. 

Uma fonte na chancelaria argentina afirmou que mais detalhes sobre as sanções impostas à Venezuela devem ser conhecidos em uma reunião de ministros do Exterior, no dia 14, no Uruguai.

Com isso,a Venezuela deixa de participar da rotina do bloco, como, por exemplo,comparecer às reuniõesou ter direito a voto. A presidênciatemporária doMercosul,hoje exercida por uma comissãodos quatro sócios mais antigos - Brasil ,Argentina ,Paraguai e Uruguai- será entregue àArgentina em meados do mês. A expectativa do lado brasileiro éque agora o diálogodentro do bloco ganhe velocidade, pois praticamentenãohouve reuniõesao longo do últimosemestre.

A presençada Venezuelano Mercosulera questionada principalmentepelo Paraguai,que queria aplicar contra o país a cláusula democrática.O ministrodas Relações Exteriores,JoséSerra, tambémafirmou diversas vezes que a Venezuelanãoéuma democracia, pois hápresos políticosno país.

Mas a pressãomais forte do bloco contra o governo do presidente Nicolás Maduro partiu do próprio acordo de adesãoda Venezuela ao Mercosul. Para ser um sócio pleno, ela teria de internalizaras normas adotadas pelo bloco, o que era considerado "impossível" nos meios diplomáticos brasileiros. E foi por descumprir esse compromissoque a Venezuelaserásuspensa.

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As tensões no Mercosul refletem as mudanças no cenário político da América do Sul. Após anos de hegemonia de governos de esquerda e de boom no preço das commodities, houve mudanças nos governos de Brasil e na Argentina, os principais países da região.

Alguns membros do governo brasileiro consideraram adiar a punição para não prejudicar as negociações entre chavismo e oposição patrocinadas pelo Vaticano, mas mudaram de ideia. Empresários brasileiros têm reclamado do ambiente de negócios da Venezuela. “É uma decisão política que mostra os países do Mercosul tentando se adequar à realidade global”, disse o chefe do Conselho Comercial de Exportadores Brasileiros Roberto Ticoulat. 

Críticas. Em reação à suspensão, representantes do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) entregaram um documento às embaixadas dos países-membros do Mercosul em Caracas na qual exigiram respeito ao país. 

Segundo o primeiro vice-presidente do PSUV, Diosdado Cabello, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai “querem dar um golpe de Estado na Venezuela” via Mercosul”, uma vez que o país garante ter cumprido as regras alfandegárias. 

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“Funcionários comprometidos com mandados imperais não derrotarão nossa pátria com suas ações antijurídicas”, disse a chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, em sua conta no Twitter. 

Na segunda-feira, a chanceler convocou uma manifestação de jovens chavistas diante dessas representações diplomáticas para protestar contra a suspensão. Segundo o ministro de Comércio Exterior, Jesús Faría, “92% das regras tinham sido cumpridas”.

As revisões técnicas estão concluídas e a Venezuela está em condições de aderir ao Acordo de Complementação Econômica”, disse a chanceler aos ministros das Relações Exteriores de Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai. “Essas condições atendem aos princípios de gradualismo, flexibilidade e equilíbrio que regem os termos de adequação.” / COM RODRIGO CAVALHEIRO 

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