O chanceler do Uruguai, Luis Almagro, afirmou ontem que os governos do Mercosul têm demonstrado "boa disposição" para decidir o retorno do Paraguai ao bloco no dia 15 de agosto.
Nessa data, o empresário Horacio Cartes assume a presidência paraguaia, o que daria ao país as condições para que seja reintegrado ao Mercosul - após um ano de "castigo", sem direito a participar das reuniões do bloco e suas decisões políticas e comerciais.
Os ministros das relações exteriores do Brasil, Argentina, Uruguai e Venezuela participam desde ontem da cúpula do Mercosul em Montevidéu. Embora a bandeira do Paraguai esteja presente, ao lado das de seus sócios, não há representantes paraguaios nesse encontro Cone Sul. Essa é a terceira cúpula do bloco sem a participação do Paraguai, país que integrou o grupo de fundadores em 1991.
O chanceler brasileiro, Antonio Patriota, afirmou ontem à noite à imprensa brasileira que os chanceleres do bloco "debatiam a fórmula precisa" para a reintegração do Paraguai. Segundo Patriota, os presidentes já fizeram "gestos importantes" ao telefonar para Cartes em abril. O chanceler disse que "a expectativa é que o Paraguai possa se somar ao Mercosul em agosto".
O governo do presidente Federico Franco e a equipe de Cartes esperavam, porém, que o bloco passasse a presidência rotativa do bloco ao Paraguai. No entanto, em razão da suspensão do país até meados de agosto, o comando semestral do Mercosul passará à Venezuela, que exercerá a presidência pela primeira vez.
"A presença da Venezuela no Mercosul é uma realidade", frisou Patriota. "A expectativa é que o Paraguai se adapte à essa realidade o mais rápido possível", afirmou. "Deixemos que o Paraguai se manifeste sobre essa questão, sobretudo o presidente que ainda não assumiu", disse o chanceler.
Patriota atenuou as declarações das autoridades de Assunção que indicavam uma certa indisposição de voltar ao bloco do Cone Sul sob a presidência da Venezuela.
A decepção no Paraguai com o Mercosul tem aumentado de forma crescente, levando os assessores do presidente eleito, Cartes, a avaliar o que chamam de "desmercosulização" da relação com os sócios.
Segundo fontes indicaram ao
Estado
, a ideia é manter temporariamente relações em separado com cada sócio, em vez de pensar de forma "conjunta", no âmbito do Mercosul.
Além disso, Cartes avalia intensificar as relações com a Aliança do Pacífico, grupo comercial que reúne Chile, Peru, Colômbia e México e desponta como futuro rival do Mercosul na região.
'Presença irregular'.
A equipe do presidente eleito definiu que o país não participará de nenhum ato nem assinará documento oficial do Mercosul enquanto a Venezuela for tratada como sócio pleno do bloco, uma vez que o Senado paraguaio nunca ratificou a entrada do país caribenho no bloco. Para os paraguaios, a presença da Venezuela no Mercosul é "irregular".
Cartes propõe que o Paraguai assuma a presidência rotativa do Mercosul para que, depois, seu governo insista nos próximos meses na retomada da discussão no Senado sobre a entrada da Venezuela.
Argentina, Brasil e Uruguai rejeitam a ideia, já que implicaria na admissão de que a inclusão da Venezuela foi realizada de forma arbitrária.
As presidentes do Brasil e da Argentina, Dilma Rousseff e Cristina Kirchner, manterão hoje uma reunião bilateral em Montevidéu. As duas devem tratar do regime automotivo entre os dois países, além das barreiras protecionistas levantadas recentemente pela Argentina.