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Mesmo com restrições severas, Inglaterra mantém escolas abertas para quem precisa

Crianças vulneráveis e filhos de trabalhadores essenciais podem assistir às aulas presencialmente

Por Mariana Hallal
Atualização:

OXFORD, REINO UNIDO — Mesmo em meio a um lockdown rigoroso, Helian Almeida leva o filho à escola todos os dias. O pequeno Oliver, de 6 anos, passa a manhã inteira e boa parte da tarde na sala de aula, enquanto a mãe trabalha como governanta. Manter as escolas abertas para quem precisa é uma das medidas tomadas pelo governo da Inglaterra para diminuir o impacto do confinamento sobre a vida das pessoas.

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Além disso, o governo aumentou em 90 libras por mês (cerca de R$ 673,75) o valor do crédito universal, programa de transferência de renda britânico. Empresas e pessoas físicas que perderam renda durante a pandemia também têm acesso a uma série de benefícios.

As aulas presenciais foram interrompidas para boa parte dos alunos. No entanto, crianças em situação de vulnerabilidade e filhos de trabalhadores essenciais podem continuar frequentando as escolas. Os alunos que ficam em casa assistem às mesmas aulas que seriam oferecidas em sala e recebem suporte do governo, que fornece computador e internet a quem precisa.

Mesmo com o lockdown, Helian Almeida leva o filho, Oliver, à escola todos os dias Foto: Mariana Hallal/Estadão

Helian conta que ficou relutante e com medo do coronavírus quando a escola ofereceu a possibilidade de Oliver frequentar as aulas em meio ao lockdown. “Mas não tive escolha. Trabalho na casa de um senhor que tem Alzheimer. Ele depende de mim, não posso deixar de ir”, diz.

Para manter as crianças e funcionários seguros, a maioria das escolas criaram bolhas formadas por poucas crianças e uma professora. Esses grupos tomam todos os cuidados para não se misturarem uns com os outros. Quando possível, cada bolha tem seu banheiro e entra na escola por um portão ou horário diferente. Dessa forma, se alguém ficar doente, é mais fácil identificar as pessoas que tiveram contato com o infectado.

Na turma de Oliver há apenas seis crianças e eles devem manter distância entre si o tempo todo. A professora usa uma viseira transparente e evita o contato físico com os pequenos. A hora do lanche, assim como as brincadeiras, passaram a ser individuais, sem muita interação.

Apesar do ambiente escolar estar totalmente diferente, Helian afirma que o filho está aprendendo muito mais na escola do que na época em que precisou estudar em casa. No ano passado, as aulas presenciais foram suspensas por alguns meses e coube à mãe a tarefa de alfabetizar o filho. 

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“Tinha momentos que dava vontade de chorar”, diz. Na época, ela conseguiu continuar trabalhando mesmo com as escolas fechadas porque teve o apoio da filha mais velha que estava passando um período na Inglaterra. O colégio também forneceu um computador para que a criança pudesse assistir às aulas.

Na família de Lana Antunes, assistente de reabilitação do Sistema Nacional de Saúde (NHS, na sigla em inglês), a situação é parecida. Nos dias em que ela precisa trabalhar presencialmente, a filha mais nova, de 5 anos, vai à escola. Quando a mãe fica em casa, a pequena assiste às aulas de forma remota. A mais velha, de 10, assiste às aulas sempre pelo computador. 

A brasileira acredita que a caçula está aprendendo muito mais agora, na escola, do que no ano passado, quando teve aulas a distância. “Ela está ganhando muito mais em termos de aprendizado e eu não preciso me preocupar tanto em ter de fazer reforço escolar”, diz.

Como Lana trabalha em ambiente hospitalar, não ficou com receio de mandar a filha para a escola. “Aqui eles são muito responsáveis com a saúde das crianças”, fala. Ela conta que há álcool em gel na entrada da escola, as professoras usam máscara, há distanciamento entre as pessoas e a escola está toda setorizada para evitar aglomerações.

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Outro ponto positivo na política educacional da Inglaterra, pontua, é o fato de as escolas permanecerem abertas para crianças em situação de vulnerabilidade, que são monitoradas por assistentes sociais. “Quando a criança passa o dia inteiro na escola, os professores conseguem monitorá-la. Caso contrário, pode correr risco de sofrer violência ou abuso”, fala. 

Outras medidas

Além de manter as escolas abertas para quem precisa, o governo inglês tomou uma série de medidas para mitigar o impacto econômico causado por longos períodos de confinamento. Há estratégias voltadas para a população em geral e para as empresas.

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O valor do Universal Credit, programa de transferência de renda destinado a quem tem baixo salário, está desempregado ou não pode trabalhar, foi ampliado. Desde abril do ano passado o valor mínimo pago pelo governo passou a ser de 342,72 libras (R$ 2.563,65), aproximadamente um quarto do salário mínimo.

Trabalhadores independentes também contam com ajuda do governo. Eles podem receber até 80% do lucro médio declarado nos últimos três anos (ou menos, se for o caso). O limite é de 2,5 mil libras por mês (cerca de dois salários mínimos).

Para empresas, o governo cancelou alguns impostos e está oferecendo empréstimos a juros baixos. Outro benefício concedido é o pagamento do auxílio-doença dos funcionários que têm diagnóstico confirmado de covid-19 ou estão com suspeita da doença.

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