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Micheletti deixa Costa Rica sem falar com Zelaya e mantém impasse

Presidente autoproclamado de Honduras nomeia comissão negociadora para dialogar com líder deposto dia 28

Por Gustavo Chacra e SAN JOSÉ
Atualização:

Horas depois de desembarcar na Costa Rica, o presidente designado Roberto Micheletti retornou ontem para Tegucigalpa, indicando que não haverá encontros frente a frente com o presidente deposto Manuel Zelaya. Os dois rivais se reuniram separadamente com o presidente da Costa Rica, Oscar Arias. Micheletti disse que voltava para casa "totalmente satisfeito" com o resultado da viagem. Veja também:Imagens de protestos em Honduras Entenda a origem da crise política em Honduras Perfil: Eleito pela direita, Zelaya fez governo à esquerdaPodcast: Gustavo Chacra fala sobre expectativa de negociaçõesFicha técnica: Honduras, um país pobre e dependente dos EUA  O rápido retorno de Micheletti para Honduras foi um sinal de que as "negociações não foram bem", afirmou o analista Kevin Casas, da Brookings Institution, em entrevista à CNN em espanhol. "Sem encontro cara a cara, nenhuma negociação avança", acrescentou. Ontem à noite, Arias reconheceu que o "processo de negociação deverá tomar mais tempo do que havia sido planejado". O costa-riquenho disse que a restituição de Zelaya "é inevitável", mas adiantou que "os pontos mais difíceis devem ser deixados para o final". A comunidade internacional pressiona Micheletti a devolver o poder a Zelaya, deposto no dia 28. Militares, o Judiciário e o Legislativo de Honduras consideram que o presidente foi destituído legalmente - e não por um golpe -, uma vez que violou a Constituição ao tentar modificá-la para que pudesse ser eleito novamente. Ao desembarcar em Tegucigalpa, Micheletti ironizou a possibilidade de restituição do presidente deposto: "(Partidários de Zelaya) defendem a volta do presidente para cá (Honduras). Estamos de acordo com o retorno, mas desde que ele (Zelaya) vá diretamente aos tribunais." "Micheletti é muito difícil de negociar, não cederá facilmente", disse ao Estado Eduardo Maldonado, jornalista e secretário do Partido Liberal - agremiação tanto de Zelaya quanto de Micheletti. O primeiro a chegar à casa de Arias, onde foram realizados os encontros, foi Zelaya, com o seu tradicional chapéu de vaqueiro. O líder hondurenho permaneceu algumas horas na residência antes de emitir um comunicado à imprensa, afirmando que "o Estado de direito deve ser restituído em Honduras". Agradecendo ao costa-riquenho pela mediação, Micheletti afirmou que "os acontecimentos uniram ainda mais os hondurenhos". Para o presidente de facto, "ninguém está acima da lei" e a negociação deve ter como base a Constituição hondurenha. Prêmio Nobel da Paz, o presidente costa-riquenho, segundo disseram autoridades do país, utilizaria o dia de ontem para ouvir os dois lados. Mais tarde, Arias se reuniria com comissões negociadoras que representavam os dois lados. POUCA FLEXIBILIDADE O diálogo deveria prosseguir hoje na casa de Arias, mas a volta de Micheletti deve alterar os planos. A expectativa era de que ambos os lados cedessem um pouco. Várias alternativas vêm sendo discutidas por analistas. Em uma delas, Zelaya retornaria, mas teria de renunciar a seus planos de alterar a Constituição. Em outra, Micheletti permaneceria no poder, mas o presidente deposto poderia retornar a Honduras anistiado. A Organização dos Estados Americanos (OEA) e os EUA não admitem outra saída a não ser o retorno de Zelaya. Ontem, a Embaixada dos EUA em Tegucigalpa anunciou a suspensão de US$ 16,5 milhões em assistência militar a Honduras. Outros US$ 180 milhões também podem ser congelados. De acordo com pesquisa do Instituto Gallup, realizada em Honduras, 41% dos entrevistados consideram a deposição de Zelaya justificável. Outros 28% disseram se opor. CRONOLOGIA 2009 Às vésperas do fim de seu mandato, Zelaya convoca consulta popular para alterar a Constituição 23 de junho Parlamento rejeita consulta e Supremo declara votação ilegal 28 de junho Presidente é derrubado e enviado para Costa Rica 29 de junho Confrontos são registrados em Tegucigalpa 1.º de julho OEA dá 72 horas para que governo de facto restitua Zelaya 3 de julho Secretário-geral da OEA vai a Honduras e ameaça suspender país Domingo Sem acordo, OEA aprova suspensão de Honduras e Zelaya tenta voltar ao país Segunda Governo dos EUA rejeita se reunir com missão enviada pelo governo de facto de Honduras Ontem Zelaya e Micheletti se reúnem na Costa Rica OS RIVAIS Manuel Zelaya 56 anos, fazendeiro Eleito presidente em 2005, foi deposto por um golpe militar dia 28 e expulso do país Comunicativo e com visual pouco discreto, Zelaya foi eleito por um partido de direita, mas acabou dando uma guinada à esquerda ao longo do mandato. Deposto por militares com o aval do Legislativo e do Judiciário, Zelaya acusa os golpistas de traição. O presidente tentou voltar ao país no domingo, mas foi impedido Roberto Micheletti 61 anos, empresário Foi designado presidente pelo Congresso no dia 28, após o golpe de Estado Há 30 anos na vida política, era companheiro de partido de Zelaya. Judiciário e Exército respaldam seu governo, que não tem reconhecimento internacional. Discreto, Micheletti evita discursos públicos. Ele se nega a negociar a restituição de Zelaya, a quem acusa de tentar uma manobra ilegal para eleger-se de novo

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