Migração na América do Sul deve superar saída para Europa e EUA

Crescimento econômico e facilidade para obter documentação contribuem para mudança, diz organização

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Por Marcia Carmo
Atualização:

BUENOS AIRES - O diretor da Organização Internacional de Migração (OIM) para América do Sul, o uruguaio Juan Artola, disse que existe uma tendência a maior migração regional e, ao mesmo tempo, tendência ao menor fluxo de emigrantes sul-americanos para os países da Europa e dos Estados Unidos. "É uma tendência que ocorre por um conjunto de fatores, que inclui maiores oportunidades na América do Sul num momento em que ficou mais difícil conseguir trabalho e a chance de imigrar para a Europa e para os Estados Unidos", disse Artola em entrevista à BBC Brasil. Segundo ele, nos últimos anos aumentou a migração intra-regional na Argentina, Brasil e, em certa medida, também no Chile e no Uruguai. Todos absorveram mão-de-obra regional, de acordo com o diretor da OIM. Artola observou que o crescimento econômico registrado na última década nos países da América do Sul e a facilitação para conseguir documentos de residência contribuíram para esta migração intra-regional. "Essa imigração intra-regional é um fato inédito nos últimos 30 ou 40 anos, mas coincide com o crescimento econômico e o impulso do processo de integração do Mercosul e da Aladi (Associação Latino-Americana de Integração)", disse. Menos burocracia O diretor da OIM lembrou que nos últimos anos os trâmites burocráticos para um imigrante se estabelecer no país vizinho foram simplificados a partir de acordos do Mercosul e da Aladi. "Estes fatores, somados ao problema do emprego na União Europeia e nos Estados Unidos, fizeram com que muitos imigrantes preferissem um país da região. Seja pela oportunidade ou pela distância", afirmou. Para ele, apesar da desaceleração de algumas economias regionais em 2011 e a perspectiva deste ritmo continuar em 2012, este fluxo de migração intra-regional não deverá ser afetado. "Não percebemos que esta tendência vai diminuir. Ao contrário", disse. Jovens Nos últimos dez anos, cerca de 700 mil sul-americanos migraram para um país da própria região. Deste total, 500 mil mudaram-se para a Argentina na última década. "Meio milhão de paraguaios, bolivianos e peruanos chegaram à Argentina em busca de oportunidades. Hoje, a população total de imigrantes representa aproximadamente 4,5% da população nacional argentina", disse. Estima-se que a maioria tenha idades entre 20 e 35 anos. No caso de Buenos Aires, a maior presença de imigrantes sul-americanos é observada nos trabalhos nos salões de cabeleireiro, nos supermercados e nas universidades públicas do país, por exemplo. No Brasil, disse Artola, ocorre a mesma tendência a maior presença de imigrantes sul-americanos, mas em menor escala. "Não pelo idioma (português), mas pela distância. Esta imigração poderia ser maior em São Paulo se não fosse a distância (para os países vizinhos)", disse. Estima-se que o Brasil tenha registrado nos últimos anos a chegada de 75 mil imigrantes. "O Brasil vai continuar recebendo imigrantes da região, de outros países e continentes", disse. "Os brasileiros, filhos de japoneses, que tinham ido para o Japão estão voltando. Espanhóis e africanos procuram oportunidades no Brasil e na Argentina. Mas no caso do Brasil, que tem quase 200 milhões de habitantes, esta proporção é menor em comparação aos outros países da região", afirmou. Ele entende que a proporção de espanhóis e de africanos ainda é pequena e ainda não foi estimada numericamente. Uruguai, retorno Na sua visão, os países da região estão podendo absorver a mão-de-obra que chega dos países vizinhos tanto em obras como em trabalhos domésticos, entre outros setores. "No Uruguai, os peruanos trabalham na pesca e paraguaios e bolivianos muitas vezes em empregos domésticos", disse. Recentemente, autoridades uruguaias do governo do presidente José "Pepe" Mujica discutiram sobre a necessidade de estimular a imigração para tentar "povoar" o país, onde vivem cerca de 3 milhões de habitantes. O diretor regional da OIM disse que vem sendo observado ainda o retorno aos seus países de habitantes que estavam na Europa ou Estados Unidos. "Dez mil uruguaios retornaram ao Uruguai nos últimos dois anos. É um número alto na proporção total dos habitantes do país", afirmou. No Chile, apesar da rivalidade histórica entre os dois países, é detectada quantidade crescente de peruanos trabalhando em diferentes setores. "Em muitos dos países da região, como Uruguai e Chile, a taxa de natalidade caiu, e a imigração chega em bom momento", afirmou. Artola antecipou à BBC Brasil que os dados completos da migração intra-regional serão divulgados pela OIM em abril.

 

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