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Migrantes venezuelanos dizem que são alvo de xenofobia no Brasil

Mesmo com dificuldades de relacionamento, fluxo de entrada de venezuelanos permanece elevado em Roraima

Por Pablo Pereira , Pacaraima e Roraima 
Atualização:

Fugir do desabastecimento e da perseguição política na Venezuela, enfrentar a vida longe de casa e suportar leis e regras de uma sociedade com outro modo de vida e outro idioma. Esse dramático movimento de migração das centenas de refugiados que estão, todos os dias, passando a fronteira de Roraima, agora começa a ficar mais difícil de enfrentar.

Rhodell Perez Albornoz, bioquimico, trabalha como garcom em Boa Vista Foto: Gabriela Biló / Estadão

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“Está havendo muita rejeição aos venezuelanos agora”, afirmou o bioquímico Rhodell Albornoz, que trabalha em Boa Vista como garçom. “Isso é xenofobia”, emendou Jesús Gutiérrez, de 29 anos, jornalista por formação e bartender por opção. “Eu me formei na universidade para dar um presente para minha mãe, mas o que eu gosto de fazer é ser bartender”, disse. “Fazia isso na Venezuela”, explicou. Ele afirmou que a rejeição aos refugiados aumentou nos últimos meses em Boa Vista. “Estamos sendo humilhados, rejeitados. E sofremos com isso, pois os brasileiros sempre foram bem tratados na Venezuela”, disse.

Mesmo com as dificuldades de relacionamento se ampliando, como reconheceu um comerciante da cidade que pediu anonimato e servidores estaduais que tentam auxiliar na busca de emprego, o fluxo de entrada permanece forte. 

Recém-chegado ao abrigo de apoio aos imigrantes do bairro de Pintolândia, periferia de Boa Vista, o ex-primeiro sargento da Armada (Marinha da Venezuela) Ronny Jaimes, de 31 anos, criticou o governo venezuelano, que, segundo ele, força os cidadãos a abandonar suas casas em busca de outra vida. 

Após trabalhar como soldador de “grandes motores” de embarcações, ter viajado de navio por diversos países em 11 anos de trabalho na Armada, ele deixou tudo para trás. Com família ainda em Valência, decidiu atravessar a fronteira em busca de reais. Com um câmbio na casa dos 1.700 bolívares por R$ 1, conta com uma oportunidade para mandar dinheiro para a família.

Na sexta-feira, diante da Polícia Federal de Boa Vista, o motorista de caminhão Libardo Cano Cortez, de 52 anos, era outro recém-chegado. Disse que fazia 3 dias que estava na cidade, acompanhado pela mulher, Mari Cruz Montillo Ríos, de 27 anos. Ela trabalhava como cuidadora de idosos. Ao ver um supermercado de Boa Vista, ficou espantada, contou o marido. 

“Aqui, se você tem dinheiro, você pode comprar. Na Venezuela, não”, disse ela. Abrigado na casa de uma família de conhecidos brasileiros, o motorista conta que há um ano está sem trabalho. “Por anos, viajei o país inteiro”, conta. “Mas agora está tudo parado”. 

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Disposto a encarar o Brasil, Libardo ajusta as calças frouxas e justifica que está mais “delgado” (magro, em espanhol). E mostra fotos de meses atrás quando estava mais pesado. “Isso é preocupação, falta de oportunidade de trabalho”, disse, ao lado da mulher. Mari Cruz, emendou: “Isso é de comer uma vez ao dia”, afirmou. “Triste, difícil”, completou Libardo. 

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