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Milhares de fiéis esperam pelo papa Francisco nos territórios mapuche

Na cidade de Temuco, esperança dos peregrinos é que mensagem do pontífice da Igreja Católica ajude a levar paz para região marcada por disputas de terra; depois de 'missa da integração', líder religioso deve se reunir com grupo de indígenas

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Por Redação
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TEMUCO, CHILE - Milhares de peregrinos lotam nesta quarta-feira, 17, a Base Aérea de Maquehue, na cidade chilena de Temuco, para escutar as palavras do papa Francisco. A esperança é que o discurso do pontífice da Igreja Católica ajude a "trazer paz" para esta área marcada por disputas de terra pelos indígenas mapuche.

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Desde a meia-noite, milhares de fiéis iniciaram a vigília na base aérea, onde chegavam depois de percorrer um trajeto de três quilômetros de caminhada. Enrolados em mantas ou sacos de dormir, com toucas e jaquetas para suportar o frio da noite no sul do Chile, os peregrinos esperavam por horas pela missa de Francisco, segundo papa que visita a cidade depois de João Paulo II em 1987.

Peregrinos aguardam a chegada de Francisco no Base Aérea de Maquehue, na cidade chilena de Temuco Foto: REUTERS/Edgard Garrido

"Acredito que vale a pena (o sacrifício) porque a mensagem que precisamos há muito tempo da mensagem que trará o papa Francisco ao nosso país. Se passaram 30 anos desde a última visita (de um papa) e acredito que isso nos preencherá de paz, esperança e fé", disse Jessica Pinto, que viajou mais de três horas para poder ver Francisco.

"Me sinto muito bem porque é uma visita muito esperada. Espero que isso nos faça todos se sentirem muito bem como pessoas e nos unamos mais", disse ao lado dela o peregrino Francisco Vera. "Somos um país solidário, mas essa fé se perdeu e espero que com a visita do papa possamos retomá-la."

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Francisco escolheu a cidade de Temuco (800 quilômetros ao sul de Santiago) para fazer contato direto com indígenas mapuches, a etnia mais importante do Chile, que denuncia discriminação, abusos e reivindica a restituição de territórios ancestrais hoje em mãos privadas.

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A visita será curta. O papa deixará Santiago rumo a Temuco, em La Araucanía, onde oficiará a chamada "missa da integração dos povos" na Base Aérea de Maquehue. A expectativa é que reúna uma multidão tão grande quanto a de terça-feira na capital, que teve um público de 400 mil pessoas.

Depois da liturgia, o pontífice deve se reunir com um grupo de indígenas, cujas identidades ainda não foram reveladas pela organização do encontro. Na sequência, ele volta para Santiago, onde se reunirá com jovens e visitará a Universidade Católica da capital.

Tensões

"O programa da visita do Santo Padre reflete sua preocupação com uma zona que viveu tensões importantes, com a qual quer compartilhar uma mensagem de paz e para onde busca levar palavras de esperança que possibilitem o encontro entre as pessoas", disse recentemente o coordenador nacional da Comissão que organiza sua visita ao Chile, Fernando Ramos.

No entanto, parece ter-se propagado para La Araucanía a hostilidade contra a presença do papa por parte de grupos minoritários registrada em Santiago. Na madrugada passada, duas pequenas igrejas católicas foram atacadas em meio a um crescente clima de tensão pelas reivindicações de indígenas mapuches.

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Em ataques simultâneos, as pequenas capelas situadas na periferia de Temuco ficaram completamente destruídas. Essas investidas se somam às sofridas por outras seis igrejas na capital com mensagens contrárias à visita do papa.

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Os ataques incendiários são frequentes na região de La Araucanía. Nos últimos anos, foram mais de 100 atentados contra maquinário florestal e templos religiosos.

Antes da chegada dos conquistadores espanhóis no Chile, em 1541, os mapuches eram donos das terras que vão do rio Biobío a até cerca de 500 quilômetros mais ao sul.

Após sucessivos processos, os mapuches, que representam 7% da população, foram forçados a viver em pouco mais de 5% de seus antigos domínios.

Sem canais de negociação abertos, espera-se que a visita do papa à zona possa servir para aproximar posições nesse conflito de longa data. / AFP

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